quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Diário da saudade - Dia 21

Dia 21 - 16/09/14

*Para ler ao som de Estou Triste, do Caetano, e de todo o Abraçaço.




Hoje tem repeteco de dias. Intervalos, interseções, danças. E a interseção (e a secção) é a minha ciclotimia. De Peanuts ao abraçaço de Caetano, ao meu quarto como o lugar mais frio não do Rio, mas dessa Brasília quente que é o próprio deserto. Hoje deve ter sido o dia mais quente do ano. Me senti mal o dia inteiro. A vontade é de simplesmente virar vento. E chover na cidade. A poeira precisa de chuvas. Os ipês brancos chegaram. Eles são os últimos do espetáculo e costumam anunciar o fim da seca. O Festival de Cinema, que começa hoje, também costuma anunciar o fim da seca. É tradição na cidade: a chuva (a)guardada, choros de tantos brasilienses, cai durante a abertura do festival. O que é isso, uma cidade que chora? Eu sempre cheia de perguntas.

Sei que está difícil aqui, longe, com a saudade. As coisas ganham proporções distorcidas. De repente, me sinto tola. Apago caminhos, impulsos, mas não há o que apagar. Tudo é tentativa de encontrar nossa voz no mundo. Viventes. Às vezes, eu queria mesmo é voltar ao silêncio de antes de antes de antes de antes. O silêncio da barriga. Será a minha barriga silenciosa pro pequeno? Eu, com tanto caos, caórdica? Será que passo o quê? Que música toca pelo fone que é esse cordão, esse coração que nos une?

Eu queria que ele não sentisse a minha agitação. A minha ansiedade. Queria que ele soubesse esperar o que eu não soube. Que ele respire fundo. Que possa ver a graça de cada segundo, de cada fase de peixe, nesse mar de memórias e referências que não são dele mas que também são porque são nossas e ele e nós somos uma coisa só, até que um dia o cordão se corte. Filho, saiba ver como cada tempo é bom. Saiba ver o tempo.

Por muitos anos, me gabei por ter nascido apressada, porque eu "quis logo ver o mundo", "era curiosa", "quis chegar e abalar". Não, meu amor. Fica aí, que ainda há muito tempo de ficar. De esperar. Veja os ipês brancos: são os últimos e, para muita gente, os mais belos da trilogia dos ipês de Brasília. Eles esperam os rosas e os amarelos entrarem em cena e arrebatarem as retinas de quem vê. Só então eles aparecem. Delicados como cerejeiras orientais.

O céu de Brasília vai ficando cheio de tsurus. Não seria um sonho lindo? Ipês brancos e revoadas de pássaros de papel, de todas as cores, diante de um céu azul infinito.



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