domingo, 18 de dezembro de 2016

Manila: lógica do consumo, crescimento predatório e a impermanência como antídoto






Fim das férias no Brasil e cá estamos de novo, eternos nesta Manila. É incrível como um mês longe das Filipinas foi o suficiente para eu me desacostumar com alguns aspectos negativos daqui, como o trânsito louco, a poluição, o desrespeito aos pedestres, a desigualdade social gritante e o american way of life adotado pelo país.

É precisamente sobre este último aspecto que fiquei com vontade de escrever. Sim, porque estar de volta significa retomar a rotina de supermercados, resolver coisas na rua etc. E aí, quando você menos espera, lá está você dentro de um mall. Tudo parece girar em torno dos shoppings, é impressionante! Claro, há de se considerar que estamos em dezembro, mês do Natal, então todo o consumismo está exacerbado. Mas, ainda assim, fiquei assustada com o tanto de gente comprando. Pensem numa 25 de março em fim de ano multiplicada por 10. Assim são as muvucas natalinas aqui nas Filipinas.

Me pergunto como há tanta gente com bala na agulha para comprar num país em que a realidade é de salários baixíssimos e muita pobreza. Aí várias coisas vêm à cabeça: 1) cada um compra o que pode e há muita oferta popular, pensando neste gosto por shopping, 2) Aqui faz muito calor e muita gente vai ao shopping para aproveitar o ar condicionado mesmo. No caso do Glorietta, que é um shopping que dá acesso ao trem, o povo prefere obviamente ir por dentro curtindo o fresquinho. Mesmo que de passagem, essas pessoas acabam gastando nem que seja alguma coisinha. Ou seja, a roda do consumo segue girando!

Estou longe de ser franciscana, mas confesso que essa ênfase me causa muita ansiedade. Vou tentar explicar melhor. É que sinto aqui um sentindo de urgência o tempo todo, muito maior do que sentia no Brasil. Aliás, acho que lá eu nem sentia, talvez porque tivesse outros pontos para ocupar minha atenção. Mas aqui eu sinto bastante!

Há sempre tantas placas de sale e mil promoções do tipo "última chance de aproveitar" que eu acabo tendo a sensação de estar perdendo uma grande oportunidade o tempo todo! Quando vejo, lá estou eu sem saber para que lado olhar, com o interesse pulando de vitrine em vitrine feito um macaco inquieto.

Eu paro, respiro e penso: isto não é real. Não são necessidades reais.  




A mesma lógica eu observo no supermercado. Há uma infinidade de produtos que vêm com brindes (pratinhos, vasilhas, esponjas e outros cacarecos). Mesmo que você não precise do produto, bate o impulso de comprar. Porque, sei lá, vai que amanhã não tem mais...

Amanhã pode não ter mais.

Mas aí me concentro e penso no grande ensinamento que aprendi com Renato Russo, que certamente aprendeu com o budismo: na verdade não há!

Não há amanhã. Há só o agora, que é grandioso demais para hiperventilar por coisas de que não preciso mas acho que posso precisar.

Como tática de sobrevivência, ao longo de dois anos venho desenvolvendo minhas ferramenta para lidar com essa a lógica de cidade mega grande, poluída, cheia de carros, sem transporte público bom e com foco na fissura do consumo. Tento focar no capital humano das Filipinas. Para mim, esse é o bem mais valioso do país! Os filipinos são maravilhosos, amorosos, alegres, gentis e acolhedores. O que me assusta um pouco é pensar aonde este modelo pode levá-los em 20 anos, por exemplo.

Manila não comporta mais carros. Manila não comporta uma bolha de riqueza, com gente comprando sem parar e prédios sendo erguidos incessantemente, enquanto boa parte da população compartilha habitações minúsculas e sem saneamento com 10 ou mais pessoas.



Somente em volta do meu prédio, contei 8 edifícios em construção. Os trabalhadores dessas obras ganham um salário baixíssimo e infelizmente alguns acabam sendo atraídos pelo shabu, uma espécie de metanfetamina que permite que eles trabalhem mais e não sintam fome. É um pouco triste ver isso que, para mim, é um falso desenvolvimento. Um crescimento vertical, com mais concreto e menos verde, em meio a um serpentear de carros e jeepneys poluentes.

Aonde isso pode nos levar?

Seria lindo ver aqui um desenvolvimento de dentro para fora, a partir da própria imagem vista no espelho, e não de uma cena de filme hollywoodiano.

Bom, isso são sonhos...mas é disso que somos feitos, afinal, não é? É pelo sonho, e somente pelo sonho, que consigo seguir.







18 dias no Japão

Foram 18 dias de sonho e muitas caminhadas pelo Japão. Começamos por Tokyo, onde ficamos por 4 dias. A ideia era entrarmos em contato com c...