sexta-feira, 7 de junho de 2013

Sobre a cirurgia de desvio de septo


 Se você caiu aqui no meu blog por acaso, provavelmente estava pesquisando no Google sobre cirurgia de desvio de septo. Sim, eu também fiz isso antes de decidir fazer a minha. E é por isso mesmo que resolvi compartilhar a experiência aqui, porque achei cada coisa assustadora na internet que quase desisti da cirurgia. Então, amigos, calma: a coisa não é tão feia quanto parece.

Antes de falar da operação, vou falar um pouco do meu histórico de problemas respiratórios. Eu sempre tive rinite alérgica e já passei por todos os tratamentos possíveis e imaginários (vacinas, alopatia, homeopatia, terapia, bombinhas de corticóide nasal, loratadina, desloratadina e tudo mais). Alguma dessas coisas deve ter melhorado, mas o fato é que continuo alérgica.

Além disso, eu também sofri boa parte da vida com crises crônicas de amigdalite, que me garantiam sempre febre altíssima e algumas semanas de molho em casa, faltando aula e vendo Sessão da Tarde (adorava!). Sério, essa era a parte boa. A parte ruim foi passar a infância sem poder tomar nada gelado. Meu sonho era um picolé ou sorvete. Aí sabem o que minha mãe dizia?? “Ok, pode comprar, mas tem que deixar esquentar”. Deixar esquentar!!! E lá ia meu picolé para o fundo de um copo até virar suco de uva.

Aos 10 anos de idade, minha mãe resolveu considerar a cirurgia para tirar as amígdalas, porque elas eram mesmo muito grandes e viviam infeccionando.  Nessa cirurgia se foram as adenóides também. Resultado: meus problemas de dor de garganta acabaram e eu pude tomar sorvete e gelado para o resto da vida. Final feliz parte 1.

Só que os problemas respiratórios continuaram e meio que o diagnóstico era sempre rinite e é isso aí, a vida é dura, tem que conviver. Eu nunca nem tinha ouvido falar em desvio de septo. Mas uma coisa me incomodava profundamente sempre que eu tirava fotos 3x4 para as carteirinhas do colégio: meu nariz não ficava alinhado com aquele fundinho que tem em cima do lábio! Sempre ficava meio pro lado e tinha uma narina mais fechada que a outra. Bom, eu achava que era paranóia de adolescente e nunca comentei com ninguém. Fora isso, ia convivendo com meu nariz sempre entupido, achando que era normal, da alergia...

Até que, depois de velha (tipo aos 26 anos), fui a um otorrino achando que estava ficando surda porque meu ouvido entupia do nada constantemente. Achei que devia ter umas ceras ancestrais lá dentro, sei lá, qualquer coisa! A primeira coisa que a medica fez foi um teste de audição. Ouvi tudinho, até pensamento. Laudo: audição 100%!

Aí ela fez um exame chamado videonasoendoscopia, em que enfia um canudo com uma câmera dentro do seu nariz. Deu desvio de septo e hipertrofia dos cornetos. É, saí de lá com uma indicação de cirurgia. E esclarecendo: o ouvido entupia justamente por conta da comunicação falha com o nariz...

Procurei mais dois otorrinos, repeti os exames e todos eles foram unânimes em indicar a operação.  Por outro lado, procurei meu alergista e ele foi contra, disse que eu não precisava mexer com isso e podia continuar respirando com 50% da capacidade, já que cheguei até aqui.

Cheia de dúvidas, sempre ia adiando, com medo. Até que resolvi conversar com um amigo médico, o Aristótenis, que é sempre muito pragmático e sensato. Ele me indicou o dr. Jaime Siqueira, otorrino amigo dele e cirurgião. Fui lá e pela primeira vez senti a segurança em considerar a operação. Sério, confiança no médico é o primeiro quesito fundamental!

Ele me esclareceu tudo, disse que realmente eu poderia continuar respirando com 50% da capacidade, mas que essa outra metade me faria muita falta lá pra frente, quando eu estivesse mais velha. Explicou direitinho que a cirurgia não mudaria o formato do meu nariz se eu não quisesse, que era tudo feito internamente, apenas no septo e nos cornetos.  O que acontece é que geralmente as pessoas aproveitam e fazem a rinoplastia também, que é a cirurgia estética. Não seria o meu caso.

Escolhido o médico, partimos para a novela dos planos de saúde da classe média brasileira.  Ah, delícia! Para a minha alegria, a Amil cobriu tudo. Então foi só conciliar a agenda do dr. Jaime com a data em que teria vaga no hospital do plano.

Nesse intervalo eu comecei a surtar, a ter medo de morrer com a anestesia geral e a ler todos os blogs sobre desvio de septo, em que as pessoas dizem que saem aliens do nariz e muitas outras coisas assustadoras, rsrs. Minha amiga Moema disse para eu parar de pesquisar na internet e falou a coisa mais sábia do mundo naquele momento: “Fulô, confia. As vezes é melhor se manter na ignorância”.

E foi com esse espírito que eu segui para a faca na manhã friazinha do dia 3 de junho. Chegamos lá e ficamos mais de uma hora esperando um quarto vagar. Depois fui para o leito, dormi um pouco e vieram me buscar. Esse foi um momento estranho. Eu, uma legítima mulher de Almodóvar (dramática), achei que fossem me colocar na maca e me levar pelos corredores do hospital. Que nada. A enfermeira me deu uma camisola, uma touca, umas meinhas e falou para eu segui-la até o Centro Cirúrgico. Gente, cadê o glamour??

Minha mãe só pôde entrar até aí. Momento ternura, muitos abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim. Até que eu entrei e a porta se fechou. Aí deu medo, muito medo. Me deitaram numa maca na tal sala de recuperação, onde eu fiquei mais de duas horas esperando minha vez. 

Nessas horas eu ligo minha audição 100% (lembram dela?) e começo exercitar a arte da observação. Então prestei atenção nas intrigas entre enfermeiras, nas caras feias que faziam para determinadas pessoas  - quem seriam os vilões e mocinhos daquele hospital? - , em como tratavam os doentes, nas fofocas, o gestual, tudo. Vi e ouvi muita coisa interessante, matéria-prima para histórias e histórias. Mas me chamou a atenção mesmo o tanto que o Centro Cirúrgico fica parecendo a Feira de Acari às vezes. E eu tentando meditar sobre o sentido da vida e morte...é, tava difícil.

Chegou minha vez e eu fui andando para a sala de cirurgia. Deitei na cama, me ajeitei, conversei com o Dr. Jaime, fiz amizade com o anestesista e comecei a falar mais que a nêga do leite. Acho que eu falo demais quando estou nervosa. Quer dizer, acho que falo demais sempre mesmo. Perguntei se ele conhecia o dr. Ricardo Carranza, falei que a filha do dr. Ricardo era minha amiga da infância e tinha virado médica também, contei de quando ele chegava cansado do trabalho e ainda ia estudar matemática com a gente, que ele era um modelo de pai e...ai! cacete de agulha! Me espetaram com uma agulha gigante na veia da mão, sério, aquilo doeu demais! 

Só deu tempo de ouvir o anestesista cantando: “roda, roda, roda e avisa...alô, Terezinha!”. Lembro de ter pensando: “ih, olha o meu encosto de Chacrete!” e depois “O Adriano vai adorar essa!”.

Aí proferi minhas últimas palavras: “acho que tá dando um barato. Num tô tintindo nada”. E apaguei.

Não lembro de mais nada. Mas diz o dr. Jaime que eu já acordei falando e segurando a mão de todo mundo no Centro Cirúrgico, agradecendo “pelo carinho”. Gente, sou filha de Relações Públicas, né? ;)

Depois subi para o quarto com um curativo no nariz, tipo um bigode de esparadrapo para estancar o sangue. E com dois canudos nas narinas, para ajudar na respiração. Essa é a parte deprê. A gente fica muito feio com esses canudos e eles incomodam bastante. Mas não é nada de outro planeta.

Tive alta no dia seguinte. Não senti dor, meu nariz não ficou muito inchado nem roxo nem nada do tipo. O pós-operatório é mesmo a parte mais chatinha. Não porque dói muito. Mas porque incomoda mesmo. Esse esparadrapo de que eu falei tampa um pouco a respiração e a gente acaba tendo que respirar quase o tempo todo pela boca, o que seca muito a garganta.

A rotina de cuidados é simples: tem que lavar bastante com soro dentro dos canudos até o dia de tirá-los (cerca de 3 dias depois da cirurgia). Também estou tomando um remédio para diminuir o sangramento e o Desalex, que eu já tomava para rinite. Isso porque dá para imaginar a tragédia que é uma sessão interminável de espirros nessas condições, né? Melhor evitar.

O mais chato, para mim, é achar uma posição para dormir. O ideal é ficar com a cabeça um pouco inclinada, para evitar sangramentos. Outra coisa incômoda é a sensibilidade nos dois dentes da frente. Parece que eles ficam dormentes! Eu achei que fosse paranóia, mas o medico me disse que é normal, porque o trauma do nariz na cirurgia passa perto dos nervos desses dentes. Enfim: tempo, tempo, tempo, tempo.

Ah, sim: nada de exercícios físicos por pelo menos três semanas. É difícil, mas tem que ficar de repouso mesmo, porque os pontos ainda não foram absorvidos pelo organismo.

Falando em tempo, na segunda-feira vou tirar os splints do nariz. São umas estruturas plásticas que o médico coloca depois da cirurgia para segurar o septo no lugar certo. A gente sente que existe um “corpo estranho”, mas não dói. Deve incomodar só para tirar mesmo, mas aí eu conto em outro post!

Quanto aos tão falados “aliens” que saem do nariz, eles ainda não vieram me visitar. Sinceramente, espero que nem venham! ;)

No mais, é isso: busquem mais de uma opinião, escolham um ótimo médico, tirem todas as dúvidas e...coragem! É um incômodo que vale a pena! Três dias depois da cirurgia, eu já consigo sentir um arzinho passando pela minha narina que era constantemente obstruída. Indescritível! Parece que a gente fica tonto de tanto ar! Muito, muito bom! 

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