segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

2012 e o fim do (meu) velho mundo

Hoje, ao acordar, senti uma leveza que há muito tempo não sentia. Como se o mundo todo estivesse em suspenso para que eu apenas respirasse, sem nenhum objetivo. Apenas abrir os olhos e respirar. Meu pescoço, que sempre ficou contraído e preparado para alguma guerra imaginária, finalmente relaxou. Meu maxilar também. Fechei os olhos e foi como se, pela primeira vez, eu entendesse o sentido de meditar. Meu corpo leve, nenhuma sombra sobre os olhos, nenhum peso. Eu estava acordada, mas parecia ainda dormir, ou acordar para outro estado.

Levantei, passei mentalmente os compromissos do dia, mas nada me fazia ter pressa. Nada me tirava o chão. No caminho para o trabalho, dirigindo meu carro, olhei o mundo e foi como se em um segundo eu compreendesse toda a filosofia do universo. Eu simplesmente sabia. Tudo estava dado, ali, diante dos meus olhos. A sensação era de ter uma cortina nos olhos, uma névoa que me colocava em outro estado de percepção. O mundo estava ali, as árvores, o chão, tudo, desde sempre, e sempre diferente.

Tem coisas que a gente tenta entender com o racional e passa anos achando que compreendeu. Aí, em um segundo de entendimento com o coração, a gente compreende. E vê que antes não sabia nada. Nessa manhã, entre acordar e dirigir até o trabalho, entendi o que era a impermanência de que o budismo tanto fala. E senti o que era a entrega, um estar no mundo sem esperar nada em troca, a não ser o mundo e as possibilidades infinitas que eles nos dá. Um caderno em branco, nós e o universo. Então só continuei em silêncio e agradeci por esse momento, com a consciência de que ele passaria tão rápido e intensamente quanto veio.

Mas não. A sensação persistiu. E eu achando que havia algo errado comigo, essa letargia não podia ser normal. Cadê a Dany que estava sempre pronta, na defensiva, sempre antecipando coisas, preocupada, no controle? Essa Dany que conheci essa manhã não controlava absolutamente nada. Tomei um café pra ver se voltava ao “normal”, mas fiquei pensando que talvez meu normal esteja finalmente mudando, e a vida me apresente uma outra possibilidade.

Quem sabe seja finda essa memória corporal de maxilar travado, dores de cabeça, pescoço travado, o corpo como um soldado pronto para a batalha, pés firmes no chão, nenhum vento me move? Quem sabe esses não sejam tempos de entrega, de tirar os pés do chão como quem aceita uma dança?

2012, eu aceito. Bailemos de mãos dadas. Porque não é o mundo que vai acabar. É esse meu mundo, que acreditei o único, mas que precisa ir. Ele foi importante, 2012. Então nos despeçamos dele com respeito e reverência, deixemos que ele passe pelo salão. Agora somos nós dois, no centro da pista, a nos reinventar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

das idades

Tentando compreender minha respiração curta e corpo em defesa numa simples manhã, sem nenhuma ameaça concreta, percebi: é que vivo sempre à espera de ser surpreendida. A cada segundo, acho que algo vai acontecer e virar minha vida de ponta cabeça - para o bem ou para o mal.

O nome disso pode ser ansiedade. Ou intensidade. Ambas trazem consigo a palavra "idade". O modo de reagir é também uma forma de construir o tempo e, como já diria Renato Russo em uma das canções da Legião Urbana, o tempo é tudo que somos. Nossa construção.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Onde eu nasci passa um rio e uma caravana de ciganos...

Os ciganos fazem parte do meu imaginário desde sempre – tenho recordações deles passando na minha rua, no Guará; do parque de diversões montado por eles em Posse (GO); da mistura de fascínio e medo diante das histórias de que eles “roubavam menino”. Acho que, de certa forma, eles fazem parte do meu olhar. Tanto que eu me descrevo no Facebook como “zingarina” – a incrível personagem da Asia Argento em Transylvania, cujo nome quer dizer “ciganinha”.

Hoje, conversando com a minha mãe, tive um entendimento muito forte sobre a origem desse universo. Ela me disse que tinha verdadeira fascinação pelos ciganos quando era criança, em Canápolis, na Bahia. Disse que queria ser cigana e que dizia para todo mundo que era filha de ciganos que tinha sido “dada” pra família dela.

Fiquei arrepiada quando ela me contou essa história, porque era uma fascinação que nós nunca compartilhamos conscientemente – nunca se falou sobre isso em minha casa. Fico sempre impressionada com o poder do não-dito, daquelas referências transpessoais que nós captamos via alma, via gestos e memórias. Minha mãe me disse que gostava de brincar perto do acampamento dos ciganos e ficava olhando como eles eram bonitos e como gostavam de dançar!

Fiquei pensando em todas essas relações transmitidas em silêncio. Minha mãe se criou no sertão da Bahia, próxima ao Rio São Francisco. Eu sou apaixonada por rios. Meu tio Manoel, quando fez sua passagem, teve no retrato distribuído à família sua imagem contemplando o Velho Chico. Atrás, a letra de Caetano: “Onde eu nasci passa um rio”. Foi a forma como os filhos, esposa e netos encontraram para eternizá-lo, a síntese de todo seu afeto e infinitude.

Pensando em Tio Manoel, na conversa com minha mãe e na minha conexão com o cosmos ao passear pelas águas da Amazônia nesse fim de semana, entendi aí do que somos feitos, o que une nossa família: a liberdade e a leveza das águas.

O rio e o mundo dos ciganos são do tamanho do nosso coração.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

sonho branco

Sonhei que estava em Goiânia e nevava (deve ser meu desejo pelo frio). Eu e toda a cidade íamos pra rua ver os flocos. Uma mulher anunciou que iria chover logo mais. Eu perguntei se a neve, então, iria acabar. Ela disse que não, que já tinha programado a música para a chuva virar neve.

Me ocorreu isso: quando neva, sãos os pingos de chuva numa valsa, vestidos com seus melhores casacos brancos.

Brasília fria

Ô, Brasília...quando eu estava ficando feliz com os dias nublados e friozinhos, você logo vem e me abre esse sol? Deixa o frio um pouco mais, deixa os casacos espreguiçarem fora da gaveta, deixa os pés dos amantes se enroscarem à noitinha, deixa o edredom servir de cabana nas brincadeiras das crianças.

Ô, Brasília! O sol já arde o ano inteiro, queima inclemente...deixa a chuva lavar o concreto, alimentar a terra! Deixa a poeira brincar na água, embotar outros chãos.

Brinca você, Brasília, de ter outro rosto: deixa o vento frio te corar a face!

don de fluir

Desapegar, deixar coisas pra trás, deixar vir, deixar sair, ser a própria noite silente no deserto (e tão cheia de sons, subterrâneos, ventos...!)

Ouve: lá passa o tempo, sem que nos roube nada - apenas passa e se vai.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Celebração da língua portuguesa em João Pessoa

Cá estou em João Pessoa, para participar da quinta edição do Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa (CinePort) com o Braxília. Nunca havia vivenciado um encontro como este, com realizadores de Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste...uma verdadeira celebração do nosso idioma, que nos une nossas culturas tão distintas e tão próximas.

Para uma apaixonada pela palavra, pela música do português como eu, estar aqui é um deleite. Ainda mais especial é estar aqui com um filme sobre um poeta.

Acabo de sair da exibição do Braxília, que infelizmente estava vazia. O horário também não favoreceu...o filme foi colocado numa sessão às 16h. Além disso, a projeção foi em dvd, o que perde muito em detalhes e texturas. Mas enfim. Valeu. Gostei um bocado do documentário "Número Zero", de Claudia Nunes, em que ela filmou meninos de rua em Goiânia há cerca de 20 anos e trouxe esse registro. Senti falta de saber como essas crianças estão hoje em dia. Mas isso não é o foco do filme. Penso que a diretora quis mostrar mais o processo delas diante da câmera, que é um elemento estranho na rotina delas. Tenho mais a falar do filme, e de A Dama do Peixoto, o outro doc. da sessão. Mas agora vou correr pra ver Transeunte, do Eryk Rocha. Por um desses acasos fortuitos, me sentei ao lado dele no avião e também do ator do filme, Fernando Bezerra. Ambos queridos e muito gente fina. Vou lá ver o filme pra poder comentar aqui. Hasta!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

o teatro como salto no abismo

Há exatamente um mês, comecei uma nova graduação, agora em Artes Cênicas. As aulas têm sido incríveis, mas estão mobilizando tantos conteúdos em mim que achei pertinente escrever na esperança de que isso ajude a colocar as coisas em perspectiva. Quero mais compartilhar percepções, aqui, do que propriamente teorizar sobre teatro. Mas acaba que as duas coisas se cruzam.

Para uma pessoa cerebral e controladora como eu, as aulas de Cênicas têm sido um verdadeiro salto no abismo. Desconstrução total de mim, casa de espelhos de todas as minhas fraquezas e limitações, a própria coragem de pertencer ao desconhecido sentida no corpo, e não no papel. Entrar numa empreitada como essa é sem dúvidas um ato de coragem. O que me faz perceber que todo ator de verdade é um ser corajoso. Não é possível atuar sem se lançar a um processo indefinido, que vai ganhando contornos somente na medida em que acontece.

Já passei por uma graduação em Jornalismo e um mestrado em Cinema. E posso dizer, sem dúvidas, que a experiência em Artes Cênicas tem sido a mais profunda, no sentido de nos forçar a sentir tudo na nossa própria experiência. Não é como ver um filme e pensar diversas relações. É claro que o cinema permite entrar com contato com coisas profundas, mas sempre podemos contar com a proteção do cerebral no processo. No teatro, não. Se você se protege, não faz determinada cena. Fica lá patetando, pensando e travando todo o resto. E é exatamente assim que eu tenho me sentido em muitas aulas. Acabei trancando as disciplinas que me eram mais cômodas, que me permitiam buscar algumas defesas, e fiquei apenas nas que me tiram do eixo: Corpo e Movimento e Interpretação Teatral.

Algumas aulas funcionam como verdadeiras sessões de terapia. Porque eu, desde sempre, tenho que lutar com minha necessidade de controle. Minha ansiedade generalizada vem muito daí. No novo curso, você chega à maioria das aulas sem saber qual é o exercício. E só descobre como seu corpo reage lá, na prática, experimentando. Acho que a noção de ensaio vem muito disso: experimentar. Tudo pode sair desse processo. Mas o caminho é denso, cheio de zonas de sombra. Você entra em contato com o pior e o melhor de você. É uma desconstrução.

Começo a me perguntar: que corpo era esse, automático, que eu trouxe até aqui? Será que é possível destravar todas as defesas nessa altura da vida? Sim, porque eu sou cheia de defesas. Meu maxilar, por exemplo, é travado. Sofro com dores horríveis que irradiam para a musculatura do pescoço e para a cabeça. O dentista diz que é bruxismo e apertamento dos dentes, o que cansa a musculatura. Mas essa é a ponta do iceberg. O que me faz apertar os dentes até essa dor é a minha ansiedade, minha necessidade de controle. Aí como faz num curso em que você tem que soltar todas as suas articulações? Num curso em que você tem que relaxar e confiar no outro? Confiar. Essa é outra palavra chave no teatro, pelo que tenho percebido. Atuar é oferendar-se. Teatro é oferenda.

Todos esses caminhos são novidade pra mim. Trabalho diariamente com jornalismo, que é perfeito para pessoas cerebrais se protegerem. Você pode ficar o tempo todo na persona do "estou seguro". Bom mesmo parece ser quem tem o domínio da situação. É quem faz a pergunta certeira. Se você não usa essa máscara, é difícil te levarem a sério. No teatro, enquanto você está se preparando, tem que se permitir esvaziar tudo o que você é para poder virar uma outra coisa. Esvaziar tudo quer dizer entrar em contato com os pontos em que você tem menos controle, em que você realmente começa do zero. É não ter o domínio de nada para ter o domínio de tudo.

Diante disso, posso dizer que estou em plena crise: descobrindo que não sei respirar, não sei andar, sou acelerada, não consigo perceber onde distribuo os pesos, fico racionalizando no meio do movimento e por aí vai. Mas persisto. De peito aberto tomando quantas flechadas vierem.

É difícil ver nossas fragilidades assim tão expostas. Mas o processo me faz pensar que uma outra consciência de mim é possível. Algo novo vai se construir. E vai um dia voltar a quebrar-se. Até o infinito da vida, feita de constantes reconstruções.

sábado, 25 de junho de 2011

Cavalleria Rusticana II (ou pequeno manual de etiqueta para espetáculos e afins)

Aproveitando a postagem anterior sobre a ópera, vou fazer um breve desabafo sobre a falta de educação das pessoas. Para mim, teatros e cinemas são locais sagrados, que pedem um outro tipo de conexão consigo e com o outro. Então mesmo eu, que sou uma criatura acelerada, desligo o celular e assumo o pacto: vou ficar duas horas em uma sala escura, em contato com o que aquele espetáculo estiver propondo para mim. Salto no vazio. Às vezes o espetáculo te coloca não num nível de introspecção, mas de euforia - ainda assim é possível manter o bom senso. Aliás, taí uma coisa que podia vender na farmácia, né não? O mundo ia ser tão melhor! Enquanto não inventam a pílula da sensatez, seguem algumas dicas para a galera que adora desconcentrar os outros:

1) Crianças pequenas: 
A não ser que seja um filme ou peça infantil, não leve sua cria. Deixe com os seus pais, seus irmãos ou um grande amigo de confiança, mas não leve. Se não tiver jeito e você precisar levar, senta no canto, perto da saída - assim, se a criança ficar inquieta e abrir o berreiro no meio da ópera, por exemplo, você pode sair sem stress e salvar a noite do resto da plateia que não pagou para ouvir choro e grito de criança competindo com as sopranos. Nada contra a criançada se conectando com a arte e com a ópera desde cedo. Beleza, é incrível pra formação mesmo! Mas lá na sua casa, ok? Na maioria das vezes, se o espetáculo não for apropriado para a idade, a criança não aproveita mesmo e acaba se entediando com a duração. Então não inventa.

2) Celulares
Depois da comprovação de que existem mais celulares e smartphones do que gente, a coisa ficou meio difícil de controlar. O negócio é uma ferramenta útil de comunicação e tal, mas existem algumas regras básicas. Tipo: desligue o celular ou coloque no silencioso, por favor. Ninguém merece telefone tocando no auge de um show ou peça, enfim. É falta de respeito com quem está em cena e com os coleguinhas que estão assistindo. Certa vez, fui a um show do Jorge Drexler no CCBB. Um celular tocou bem no meio de Al otro lado del rio, que o cara estava cantando a capella, todo concentrado. Quebra clima total, né? Nem precisa dizer. Já sabe: celular no silencioso ou desligado.

Mesmo se você optar pelo silencioso, não fique mandando mensagem com o celularzão brilhando no meio da sala escura. Se você for mulher, tenta digitar com ele dentro da bolsa, pra luz não incomodar a galera. Se for homem sem carteira sem lenço e sem documento, abaixa o celular e dá uma digitada discreta, ok?

3) Câmeras fotográficas
Esse é um tópico que está diretamente ligado com o anterior, dada a convergência tecnológica. Celular com câmera também é arma nesses casos. Primeira coisa: verifique se é permitido fotografar durante o espetáculo. Geralmente a produção avisa antes. Então temos aqui dois cenários: 

3.1) é permitido fotografar - maravilha! Coisa linda de Deus! Se joga e acredita! Mas primeiro veja direitinho se o flash está desligado. Quer coisa mais irritante do que um bando de flash disparando ao mesmo tempo, quase cegando o ator e quem está em volta? Desliga o flash. É fácil. Costuma ser um raiozinho. Aí você escolhe a opção que tem um raiozinho com um PROIBIDO em cima dele. Ah, aproveita e tira também o som do disparador da sua câmera. Dá um pouco mais de trabalho que o flash, mas é de muito bom tom. Isso evita aqueles apitinhos chatos antes de qualquer fotografia. Acredite, isso também incomoda. 

3.2) Não é permitido fotografar, mas é o show da sua vida - o que vou falar aqui parte da minha experiência pessoal, porque já fiz isso no show do Drexler. Nesse caso, não vale a pena ficar se lamentando o resto da vida porque foi certinho e perdeu aquele momento decisivo, né? A vida é uma só. Então vai lá, tira a câmera discretamente da bolsa e faça algumas poucas fotos (sem flash nem apito nem luz infravermelha nem nada do tipo), com cuidado para não chamar atenção. Nada de ficar disparando um zilhão de fotos, que nem uma desembestada. 

Para câmeras, além do bom senso, tenho uma outra dica: deixe as fotos um pouco de lado e curta mais o espetáculo. Pense que aquele durante não vai voltar, mesmo que as fotos possam te ajudar a recordar.

Ok, fui um pouco ranzinza nesse manual-desabafo, né? Eu sei. É que ontem percebi como essas coisas me incomodam! As pessoas se acostumaram tanto a assistir a filmes em casa, nos dvds, que acham que todo lugar é a extensão da sala delas. Conversa alta, farofada, fotos, pezão quase encostando na orelha de quem está na cadeira da frente. Então começo aqui a campanha "você não está na sua casa". Quem quer aderir? ;)
 




Cavalleria Rusticana I

Ontem fui assistir à ópera Cavalleria Rusticana, no Festival de Ópera de Brasília. Além de ver um espetáculo desse tipo pela primeira vez, o que já era por si só emocionante pra mim, ainda tive a chance de ver um amigo querido no palco, como parte do coro.

A ópera foi linda em todos os sentidos: cenário, música, história, envolvimento dos cantores-atores...linda mesmo. E o Aristótenis me emocionou muito. Muito bonito ver a dedicação dele à música. Para contextualizar: ele é médico, gastro e cirurgião especializado em redução de estômago. Tem verdadeira paixão pela medicina. É capaz de discorrer por longos minutos sobre a beleza da medicina, numa mesa de café. Acho curiosa a poética que vem daí: Aristótenis soma a essa paixão o gosto pela música. É um ótimo violinista e também estuda canto lírico. Um tenor que maneja um bisturi com a mesma poética de um arco de violino, embora os movimentos peçam forças e estados de espírito diferentes. Há algo que conecta essas atividades, para ele. E só ele sabe o caminho. Que é bonito de se ver, ah, isso é! Inspirador! Ah, esqueci de falar que ele é casado com minha amiga do coração, a Moema. Isso também faz dele mais bonito :) Sabe aquela canção que diz "seu olhar melhora o meu"? Então. Embora eles sejam aparentemente bastante diferentes, a arte os conecta e é a forma deles aprofundarem o contato com a saúde/vida (ela é psicóloga, artista plástica e amante dos cafés e aromas e memórias).

Bom, essa aqui foi minha declaração de afeto a eles. 

E o registro de uma noite especialmente bonita, mesmo. Deveria haver mais óperas em Brasília. Não só dentro de um festival que acontece com sei lá qual frequencia. Onde esses cantores maravilhosos todos e esses instrumentistas ficam o ano todo? Que palco os acolhe? Fiquei me perguntando isso a noite toda. O Teatro Nacional ficou lotado durante o festival e soube que os ingressos para os dois dias da Cavalleria chegaram a se esgotar em dez minutos. Então, há publico ou não há? Acho que o que falta é boa vontade política mesmo, investimento...aí voltamos para a grande discussão da falta de um olhar mais generoso para a cultura, de forma geral. Há vários setores que carecem de espaço - o cinema é um deles, e eu bem sei. Então vamos aos poucos fazendo a nossa parte, rompendo espaços aqui e ali, espalhando a arte de qualquer maneira, enquanto quixoteamos por dias melhores.




sexta-feira, 13 de maio de 2011

Braxília no Cine PE


Fiquei de escrever com mais regularidade durante o Cine PE, mas a correria do festival não deixou. Uma pena, porque muitos filmes que eu vi ali mereciam espaço no blog. Muita coisa bacana mesmo, especialmente na seleção dos curtas (que, na minha opinião, deu um banho na dos longas).

Acontece que veio a premiação e o Braxília levou três prêmios: melhor trilha sonora para o Dado Villa-Lobos, melhor montagem para o Marcius Barbieri e melhor curta 35mm pelo juri popular. Aí eu não consegui mais pensar em outra coisa, estou com esse post na garganta desde que cheguei, esperando para compartilhar aqui. É felicidade demais, minha gente! Levar juri popular numa terra bairrista feito Recife me fez repensar muitas coisas. E os prêmios técnicos para o Dado e Marcius foram incríveis, merecidíssimos - pelo talento, dedicação e generosidade que eles trouxeram para o projeto desta iniciante aqui...só tenho a agradecer e a comemorar. Gracias a la vida, que me ha dado tanto!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Impressões sobre o CinePE #1

Neste exato momento, aproveito a solidão do quarto de hotel em Recife para ordenar algumas impressões sobre o CinePE, festival de que venho participando desde domingo. Preciso dizer que estou impressionada com a grandiosidade disto aqui. Mostrar seu filme para uma platéia de 3 mil pessoas é de uma emoção sem tamanho. O público realmente participa, você percebe que as pessoas que moram na cidade se mobilizam para ir ver o festival, e isso é muito bacana mesmo.

O Braxília passou na noite de domingo, numa sessão linda. Sempre me bate um receio de o filme não funcionar fora de Brasília, não tem jeito. Aí me lembro de Niki citando Tostoi, cante a tua aldeia e serás universal, e meu nervosismo de certa forma se dissipa. O poder da poesia é uma coisa impressionante, capaz de fazer que uma guria de 20 e poucos anos em 2004 visse seu conflito com a cidade ganhar expressão nos versos de um poeta que começou a escrever nos anos 70; capaz de fazer que pessoas em Recife, por exemplo, se emocionem com o olhar desse mesmo poeta diante de um cenário estranho, alheio até. Acho que todas essas pontas não se conectariam se não fosse a poesia. Estou em estado de graça, assim como fiquei quando o filme foi exibido no Festival de Brasília, na Mostra Tiradentes e no É Tudo Verdade. Cada festival fica sendo um infinito. Encontros.

Guardei muitas impressões também sobre os outros filmes que tive a oportunidade de ver aqui. Faço milhares de anotações sobre as sessões, mas fico sempre confusa sobre como organizar todo o meu turbilhão de comentários, imagens, sensações. Na verdade, acaba que a gente acaba sendo meio atropelado pela correria dos festivais e não consegue parar muito para escrever, rs. Precisa rolar uma disciplina, mas vou tentando, ao longo dos dias.

Agora mesmo eu ia começar falando dos filmes do primeiro dia, mas vou falar dos de hoje, que estão mais frescos. O curta que mais me tocou hoje foi Traz outro amigo também,  do gaúcho Frederico Cabral. Achei sensível, lúdico, divertido, bem realizado...e tocou num tema tão bonito! Não me lembro dos meus amigos imaginários da infância, uma pena. Mas me lembro que minha prima era amiga da Dona Ventania.  Voltando ao filme: contratar detetives particulares para irem atrás dos nossos amigos imaginários desaparecidos é uma bela metáfora para a reconexão com o lúdico e, por que não, com a poesia. Um reencontro sobretudo com a imaginação, para que ela nunca deixe de nos acompanhar. Graças a Deus aprendi com minha mãe a não me perder da minha criança. Deve ser por isso que fazemos tanto sucesso com a meninada da rua. Eu posso ver os amigos imaginários deles, apesar de não me lembrar do meu, e assim vou colecionando novos e fieis companheiros.

Gostei também do Ovos de dinossauro na sala de estar, do Rafael Urban, que tive a oportunidade de conhecer em Tiradentes, quando ele apresentou o curta Bolpebra. Rafael encontrou uma personagem incrível, tão bela e esfíngica que me remeteu à Clarice Lispector. Aliás, não seria a cara de Clarice uma mulher diante de ovos de dinossauros na sala de estar – ela, a mobília austera e os ovos fossilizados? Pois eu fiquei achando que estava na verdade dentro de um conto dela, com vestígios de uma história de amor se misturando a vestígios de tempo.

Eu, para crítica, acho  que não presto. Por isso falo em impressões. Não vou ter o compromisso aqui de contar as histórias do filme, então as coisas que digo podem soar meio soltas, ok? Amanhã continuo! 

sábado, 23 de abril de 2011

a felicidade é o equilíbrio no fio da navalha

Estou lendo agora um livro só de entrevistas com o Vinicius de Moraes, incluindo uma entrevista feita pela Clarice Lispector nos anos 60. Quem me emprestou foi meu amigo Diego Nunes, que sabe da minha paixão pelo poetinha :)

Pois eu leio e fico cada vez mais encantada, e com vontade de compartilhar aqui alguns momentos e ideias dele. Não reparem, enquanto eu estiver lendo este livro haverá aqui uma espécie de "seção Vinicius". Saravá! Para inaugurar:

"Eu acho que, para mim, a felicidade é o equilíbrio no fio da navalha. O ser humano que não se corta não pode ser feliz. É o tal negócio da ratoeira. O queijo está lá, o queijo é a vida, quer dizer, se você não morde o queijo você não vive. Mas, se você morde, a ratoeira te cai em cima. Quer dizer, a gente tem que deixar os pedaços por aí, não é? Mas tem que comer o queijo, isso é fundamental".

Entrevista ao Pasquim, em agosto de 1969.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Do coração aberto pra 2011

O registro é um pouco fora de hora, atrasado, mas é que só agora parei para revisitar meu blog. O fato é que começo 2011 muito feliz e em paz, bem diferente do que foi o ano passado - como podemos ver pelos textos aí embaixo. É que ciclos importantes foram fechados. Defendi minha dissertação de mestrado, fui aprovada, deixei de ler praticamente só livros teóricos e me joguei na literatura "puro deleite", ouvi mais música...e, finalmente, concluí o ciclo "Braxília". Esse talvez tenha sido o acontecimento mais importante de 2010, e certamente um divisor de águas na minha vida.

Braxília foi para mim a materialização da tal coragem de pertencer ao desconhecido, de que eu tanto falei na minha dissertação. Terminei o filme depois de anos de uma jornada muito intensa, de incertezas, de dúvidas, de inquietações, angústias, conflitos, medos. Mas o resultado valeu. O filme foi exibido no dia 26 de novembro, no 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. E só quem cresceu aqui sabe o que significa, afetivamente, estrear um filme no espaço sagrado de memórias do Cine Brasília. Além disso, que já é por si só um presente, a exibição foi linda e única e catártica: vários braxilienses se reconhecendo na poesia do Nicolas Behr. Palmas durante o filme, risos, todo mundo cantando junto Travessia do Eixão enquanto corriam os créditos...coisas que eu nunca vou esquecer!! Só essa sessão incrível já me foi mais que mil prêmios, mas os deuses acharam por bem me dar mais: Braxília levou três Candangos - melhor roteiro, melhor curta pelo juri popular e o prêmio especial do juri.

E foi assim, com o coração na boca, que 2010 caminhou para o fim e eu entrei em 2011. Para completar, saí de férias com o Igor e fomos para o Uruguai (com alguns dias na Argentina). E a viagem teve a combinação carro na estrada+mar, que é para mim uma polaroid da felicidade, coisas que me dão uma sensação incrível de liberdade, força e plenitude. Então comecei o ano renovada, fortalecida e com uma respiração diferente, cuja música ainda não decifrei. Pode ser um compasso de quietude, pode ser uma pausa para novos vôos, um interlúdio, ainda não sei. Sei que estou feliz nesse "durante". E isso me é tudo, agora :)

O mundo anda tão complicado...

Cada vez entendo menos tudo, e quero a leveza em vez da velocidade. Parece que sou atropelada por tudo o que acontece e que supostamente é importante e merece atenção, e amanhã já é outro dia.Ando questionando tudo, pareço uma edição ambulante da Vida Simples. Não é assustador pensar que acumulamos tanta coisa, muito mais do que precisamos?


Vejam o meu caso: 26 anos e tantos objetos que enchem uma quitinete inteira. Sem falar na memória, que me transborda. Lembrar é minha meditação. Minha conjugação: eu lembro. Imaginar a vida sem tudo o que construí e impregnei de significado leva a um vazio assustador. Mas precisei aprender a deixar coisas pelo caminho. A não ter medo desse vazio. Continuamos sendo tudo o que somos por meio das experiências associadas às coisas, mesmo que as coisas desapareçam. Não é isso? O que é essencial permanece, e como é um alívio entender isso, do fundo da alma!

18 dias no Japão

Foram 18 dias de sonho e muitas caminhadas pelo Japão. Começamos por Tokyo, onde ficamos por 4 dias. A ideia era entrarmos em contato com c...