domingo, 15 de fevereiro de 2015

Conscious birth - ou da importância dos afetos na gestação

Eu e João participamos hoje de um seminário aqui em Manila chamado Conscious Birth, conduzido pela doula russa Irina Otmakhova. O grupo era bem pequeno e pudemos aprender sobre as possibilidades de um parto humanizado - seja em casa, seja no hospital. A maioria das informações não era bem novidade, afinal a internet e os livros estão aí para aplacar a nossa avidez. O que mais me valeu, nessa experiência, foi a possibilidade do encontro. 

Desde que cheguei aqui, tive contato com apenas uma grávida. Estar num círculo com outros casais que vivem a mesma jornada que você é mesmo da maior importância. Ao menos me foi. O fim do seminário foi super interessante, aliás. Porque a Irina começa a conversa pedindo para escrevemos num papelzinho quais noções sobre parto nós carregamos - heranças da sociedade, coisas que nos ensinaram e que crescemos tomando como verdades.  Daí no fim do encontro, à luz das novas informações, ela pede para escrevermos o que gostaríamos que tivessem nos dito antes.

Cada mulher, então, vai para o centro de um pequeno círculo formado por pétalas de rosas. Em volta desse círculo, os outros participantes formam uma roda maior. O papelzinho com as frases que esta mulher escreveu vai passando e cada um lê para ela uma das afirmações.

Pode parecer uma coisa boba, mas o poder desta simples atividade é impressionante. Porque são outras mulheres te dizendo coisas como "por mais que doa, você dá conta", "o nascimento é sagrado e deve ser cheio de amor", "este é um novo começo" etc. Como eu disse, são coisas que a gente já sabe. Mas o poder do símbolo, deste círculo de mulheres, foi o que mais me impressionou. O gesto. 



Eu, João e Lipe bem ali no canto direito. A doula é a de colar, no centro


Irina leu para nós um texto atribuído a uma poetisa africana chamada Tolba Phanem, em que ela fala sobre como uma certa tribo na África encara a concepção, gravidez e a vida deste novo ser gerado. O texto é longo e está disponível em vários sites internet afora. Vou resumir aqui a ideia:

Nesta tribo, a idade de uma criança não começa a ser contada a partir da data do seu nascimento, mas a partir do primeiro momento em que a mãe desejou ter o filho. Enquanto ideia, enquanto presença, ele já nasceu e já habita a alma da mãe. Conectada com esta presença, com este desejo, ela vai para debaixo de uma árvore e escuta qual é a canção daquela criança. Ela volta para casa, canta esta canção com seu companheiro, e aí eles estão prontos para a concepção. A música é repetida várias vezes na gravidez, por diversas pessoas da tribo que formam uma espécie de rede em torno da mulher  e seu filho. Quando ele nasce, já tem sua música. E essa música segue sendo a identidade daquele ser. Quando ele se esquece de seus valores, quando se sente menor ou inútil, as pessoas cantam sua música como forma de lembrá-lo de quem ele é. O mesmo vale quando ele fere as regras da tribo. Em vez da punição, as pessoas cantam sua música e o transformam pelo afeto e pela reconexão consigo.

Achei essa história tão linda, mas tão linda, que deixei de lado minha faceta controladora (a que perguntaria "mas que tribo é essa? ninguém nunca diz, então é porque não existe") e simplesmente me liguei com o que existe de mais simples nela. Como uma história de "era uma vez". Sem tempo, sem lugar. Isso não importa. O que importa é compreender a força que as redes de afeto têm na construção e fortalecimento da nossa identidade.

De repente, foi como se eu me sentisse ligada a todas as mulheres que passaram pela minha vida. Minha mãe, minha avó, minha tia...tantos umbigos antes do meu, como escreveu uma vez a Liziane Guazina, poeta radicada em Brasília e que também espera seu primeiro bebê. Fiquei pensando que tão importante quanto o ritual do chá de bebê, em que ganhamos coisas para o enxoval, seria um ritual em que as nossas mulheres próximas - gerações mais velhas, gerações mais novas - pudessem apenas estar ali e nos abraçar. Nos presentear com objetos que fossem um amuleto de sorte, um amuleto de boa jornada rumo ao desconhecido, um amuleto que conectasse os umbigos e nos tornasse todas uma. Eu colocaria todos esses amuletos juntos numa caixinha e teria um retrato de mim, porque eu sou o amor e a coragem de todas essas mulheres.

Assim talvez seguiríamos mais fortalecidas e com menos medo.

Saí deste pequeno seminário de duas horas com a sensação de estar mais conectada com o que interessa e menos com coisas externas, como as coisas que ainda preciso comprar, o berço que não chegou, o modelo de canguru que não consigo escolher...

Porque, no fundo, nosso bebê precisa mesmo é do nosso amor e do nosso colo. Que a gente cante sempre a sua música. Isso, Lipe, nunca há de faltar!







5 comentários:

Unknown disse...

Belezura, Dany querida. Muita belezura!

Unknown disse...

Belezura, Dany querida. Muita belezura!

Unknown disse...

Belezura, Dany querida. Muita belezura!

Unknown disse...

Belezura, Dany querida. Muita belezura!

Unknown disse...

Belezura, Dany querida. Muita belezura!

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