Desde que cheguei aqui, tive contato com apenas uma grávida. Estar num círculo com outros casais que vivem a mesma jornada que você é mesmo da maior importância. Ao menos me foi. O fim do seminário foi super interessante, aliás. Porque a Irina começa a conversa pedindo para escrevemos num papelzinho quais noções sobre parto nós carregamos - heranças da sociedade, coisas que nos ensinaram e que crescemos tomando como verdades. Daí no fim do encontro, à luz das novas informações, ela pede para escrevermos o que gostaríamos que tivessem nos dito antes.
Cada mulher, então, vai para o centro de um pequeno círculo formado por pétalas de rosas. Em volta desse círculo, os outros participantes formam uma roda maior. O papelzinho com as frases que esta mulher escreveu vai passando e cada um lê para ela uma das afirmações.
Pode parecer uma coisa boba, mas o poder desta simples atividade é impressionante. Porque são outras mulheres te dizendo coisas como "por mais que doa, você dá conta", "o nascimento é sagrado e deve ser cheio de amor", "este é um novo começo" etc. Como eu disse, são coisas que a gente já sabe. Mas o poder do símbolo, deste círculo de mulheres, foi o que mais me impressionou. O gesto.
Eu, João e Lipe bem ali no canto direito. A doula é a de colar, no centro |
Irina leu para nós um texto atribuído a uma poetisa africana chamada Tolba Phanem, em que ela fala sobre como uma certa tribo na África encara a concepção, gravidez e a vida deste novo ser gerado. O texto é longo e está disponível em vários sites internet afora. Vou resumir aqui a ideia:
Nesta tribo, a idade de uma criança não começa a ser contada a partir da data do seu nascimento, mas a partir do primeiro momento em que a mãe desejou ter o filho. Enquanto ideia, enquanto presença, ele já nasceu e já habita a alma da mãe. Conectada com esta presença, com este desejo, ela vai para debaixo de uma árvore e escuta qual é a canção daquela criança. Ela volta para casa, canta esta canção com seu companheiro, e aí eles estão prontos para a concepção. A música é repetida várias vezes na gravidez, por diversas pessoas da tribo que formam uma espécie de rede em torno da mulher e seu filho. Quando ele nasce, já tem sua música. E essa música segue sendo a identidade daquele ser. Quando ele se esquece de seus valores, quando se sente menor ou inútil, as pessoas cantam sua música como forma de lembrá-lo de quem ele é. O mesmo vale quando ele fere as regras da tribo. Em vez da punição, as pessoas cantam sua música e o transformam pelo afeto e pela reconexão consigo.
Achei essa história tão linda, mas tão linda, que deixei de lado minha faceta controladora (a que perguntaria "mas que tribo é essa? ninguém nunca diz, então é porque não existe") e simplesmente me liguei com o que existe de mais simples nela. Como uma história de "era uma vez". Sem tempo, sem lugar. Isso não importa. O que importa é compreender a força que as redes de afeto têm na construção e fortalecimento da nossa identidade.
De repente, foi como se eu me sentisse ligada a todas as mulheres que passaram pela minha vida. Minha mãe, minha avó, minha tia...tantos umbigos antes do meu, como escreveu uma vez a Liziane Guazina, poeta radicada em Brasília e que também espera seu primeiro bebê. Fiquei pensando que tão importante quanto o ritual do chá de bebê, em que ganhamos coisas para o enxoval, seria um ritual em que as nossas mulheres próximas - gerações mais velhas, gerações mais novas - pudessem apenas estar ali e nos abraçar. Nos presentear com objetos que fossem um amuleto de sorte, um amuleto de boa jornada rumo ao desconhecido, um amuleto que conectasse os umbigos e nos tornasse todas uma. Eu colocaria todos esses amuletos juntos numa caixinha e teria um retrato de mim, porque eu sou o amor e a coragem de todas essas mulheres.
Assim talvez seguiríamos mais fortalecidas e com menos medo.
Saí deste pequeno seminário de duas horas com a sensação de estar mais conectada com o que interessa e menos com coisas externas, como as coisas que ainda preciso comprar, o berço que não chegou, o modelo de canguru que não consigo escolher...
Porque, no fundo, nosso bebê precisa mesmo é do nosso amor e do nosso colo. Que a gente cante sempre a sua música. Isso, Lipe, nunca há de faltar!
5 comentários:
Belezura, Dany querida. Muita belezura!
Belezura, Dany querida. Muita belezura!
Belezura, Dany querida. Muita belezura!
Belezura, Dany querida. Muita belezura!
Belezura, Dany querida. Muita belezura!
Postar um comentário