domingo, 16 de dezembro de 2012

Dos achados em antigos cadernos: o anti-sonho

Rabiscado nos idos de 2004. Uma mistura de Clarice, terapia e muita juventude, rsrsrs....


Um anti-sonho. Não. Esfrego os olhos como quem tenta desmanchar uma imagem doída. Aqueles quadros mentais que se projetavam nas paredes da minha cabeça. Dentro da minha cabeça tinha um sonho que não era. Meu espelho, meu duplo. Mas não eu. Um eu feito de sombra e luz, uma imagem-movimento que gritava ter uma cara. E seus gritos ecoavam em cada imensidão do meu corpo.

Mas aquela cara não era a minha. Eu era uma ilusão do que me era real. Cavernas de Platão dentro de mim. E eu tateando as paredes para ver se me achava. É que, durante anos de minha vida, eu buscava incessantemente saber quem eu era. Hoje parto em minha anti-busca, uma procura desesperada pelo anti-eu. Porque só saberei quem eu sou quando finalmente vir quem não sou.

E quem eu não era? Eu não era aquela que havia se mostrado a todos até então. O eu que conheciam não era. Aquela dor, os ombros curvados, o olhar parado num nada sempre tão cheio de melancolia. Aquela nunca fora eu.

É que agora meu coração tem um rosto. No reflexo do meu coração há um amor refletido. E só agora eu vejo que nunca fui fotografada como quem sou.

A  mulher que tomava um café todos os dias no mesmo horário na mesinha do canto. Aquela não era. Eu bebia algo que preenchesse o vazio. E hoje meus vazios são cheios de uma substância impalpável e sublime. Agora meu coração ama e me sacode forte para que eu grite meu sonho, mas o berro me rasgava por dentro e morria em minha garganta.

Esperava um grito de anti-sonho para, enfim, ser do tamanho do mundo. Eis que finalmente gritei.

O sonho que nunca seria era ser uma outra.

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