terça-feira, 6 de maio de 2008

são paulo, meu amor

De nenhuma viagem se volta.

Estamos sempre voltando para casa.

De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.

Misturo imagens de Juarroz, Heidegger, Raduan Nassar, Calvino. Já nem sei quanto de um existe no outro, tanto...! Voltei de São Paulo ontem, uma curta estada de quatro dias, e transito agora em todos esses quadros. Eterno retorno. Sei que, dessa vez, trouxe a cidade em mim, já me fiz um pouco daquela dureza. Transformo minha linguagem pela transformação das paisagens em mim? Transformo as paisagens pelo meu novo olhar, desencantado para que nasça outro encanto?

Muitas perguntas me ocorreram durante as caminhadas em ruas cinza, chuva, frio, multiplicidade de direções. Porque a placa dentro do metrô, com o itinerário do trem, dessa vez me foi só a placa dentro do metrô. A camada de algum sentido sobreposto a ela pela minha euforia simplesmente não estava mais lá. A estação era uma estação, as ruas eram ruas com a necessidade de uma escolha de caminho, até as distâncias pareceram menores. Me senti como alguém que volta a um lugar da infância e percebe como tudo é menor do que na memória.

É que eu me misturei a São Paulo. Pela primeira vez me vi feita de concreto, chuva, frio, toda a minha ânsia de me impregnar da cidade materializada no meu caminhar sereno. Recebi uma carta em envelope laranjado um dia antes de partir. Meu encanto de quem se vê diante do infinito, ingênuo e apaixonado até, ficou em algum lugar da linha vermelha. Eu precisava entender que a vida também é feita de som e de fúria. Nesse lapso de tempo do envelope laranja, carrego em mim talvez aquilo que buscava de forma tão desajeitada, sem saber. Mas continuo voltando para casa. E, como diz Juarroz, mudando minhas palavras pela roda das mutações.

Um comentário:

Mike disse...

O retorno é também renovação...
O entusiasmo da descoberta e posterior lembrança se perde quando novamente encaramos o que antes era sonho, imaginário. Mas também isso se faz importante, despertar para fazer parte... simplesmente estar.
Estar e ser por alguns instantes, ou toda uma vida, apenas concreto, chuva, frio e um vacilar entre as ruas, na hora de escolher uma direção a seguir.

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