Cheguei ontem a Porto Alegre. Do aeroporto, peguei um taxi e vim direto para o hotel, aqui na cidade baixa. Como estava morrendo de fome, resolvi caminhas nas redondezas em busca de um lugar para comer às 15h. Bom, a primeira tentativa foi um tal de Bar do Beto, aqui na esquina perto do hotel. Simpática, pedi licença ao garçom e perguntei se havia opções de lanches também ou apenas pratões que servem várias pessoas. Só d' eu falar "licença" e segurar seu ombro, o sujeito já me olhou com a cara mais feia do mundo. Disse toscamente que tinha lanches também. Procurei uma mesa e, como ninguém me atendeu em 10 minutos, resolvi ir embora. Fui caminhando até o Parque Farroupilha, onde começou verdadeiramente minha saga. Vou contá-la em pequenas pílulas:
§ Logo na entrada do parque, achei um café simpático no lago dos pedalinhos. Resolvi almoçar por ali, no deck. Pedi um waffle de palmito gratinado achando a coisa mais diferente do mundo. Na verdade, é como se fosse uma pizza, com a massa de waffle, com mais queijo do que palmito. Overdose de lactose na veia logo na chegada, continuei a caminhada pelo parque, achando que seria amena.
§ Perguntei a um casal pra que lado ficava a "feirinha". Eles me olharam com cara de interrogação, viraram um para o outro: "feirinha? tu sabes onde fica isso? ela deve estar querendo falar do bric, né?". Bom, eu disse que sim, que devia ser, lembrei de ter ouvido minha amiga gaúcha, a beta, pronunciar essa palavra. E lá fui caminhando rumo ao bric do parque.
§ A gente se acostuma a achar que, em Porto Alegre, sempre faz frio. Mas o calor aqui está pior que o de Brasília! Fui ao parque com a roupa que usei na viagem: calça jeans, tênis e blusa preta de manga curta. Okêi. Até achar o tal do bric, acho que andei umas 2 horas com sol na moleira (tá, eu me perdi algumas vezes, vim e voltei, isso aumentou o percurso!). Resultado: lá pelas tantas eu já estava com sensação de desmaio, doida por uma água e por uma sombra.
§ Na metade do percurso, vi uns adolescentes roqueiros (muitos!) deitados na grama, tomando vinho e tocando violão. Pensei: isso deve ser o bric, sei lá, o bric deve ser o bafão do parque!! Aí me empolguei e fui subindo na direção dos roqueiros. Essa parte do parque é como se fosse uma mistura de Pátio Brasil, Esplanada dos Ministérios à noite e Avenida Paulista. Sério, é muito surreal: no meio do parque, do nada, surge um reduto gótico/grunge/indie/sei lá. Muitas meninas de cabelo azul (será influência daquela moça da MTV, a Mari Moon?); muitos ray ban wayfarer daqueles de armação colorida, bem anos 80; muitas franjas e cabelos repicados com mullets (proximidade com a Argentina?); muita gente de sobretudo num calor de matar. E nenhum hippie!! Eu não vi nenhum hippie no parque! Não é surreal?
§ Bom, depois de andar uns 15 minutos na passarela dos roqueiros, resolvi perguntar para a moça da água de coco se aquele "movimento" era o bric. Ela riu e me disse que não, que eu devia andar na direção oposta (a mesma de onde eu vim) até ver umas barraquinhas. Okêi, obstinação, vamos lá. Andei até as tais barraquinhas e, pra minha surpresa, trata-se de uma avenida inteira lotaaaada de barracas. Nada que você aparentemente possa ver em pouco tempo. A essa altura, eu já devia estar desidratando. Maldisse a hora em que pedi o tal waffle de palmito carregado de queijo e sentei num banquinho. Respirei fundo e resolvi voltar. Sem ver mais de 10 minutos de bric e sem comprar nada.
§ Aliás, voltei pensando: por que diabos os gaúchos chamam feirinha de bric? Acho uma palavra bonitinha, lúdica, me lembra bric-a-brac, me lembra flicts, sei lá. Mas qual o sentido? Será que vem de bricolage, porque as banquinhas vendem as coisas mais diversas desse mundo? Eu, heim. Ainda estou sendo iniciada aos mistérios de Porto Alegre. Daqui a pouco as coisas começam a fazer sentido.
§ Voltei para o hotel com os braços queimados de sol, ardendo, coçando, tudo. Isso é para eu aprender a passar protetor solar não só no rosto. Tomei um banho gelado, me bateu uma moleza louca e eu resolvi deitar "um pouquinho". Isso por volta das 17h30. Acordei às 23h30, com o estômago roncando e meio grogue. Comi uma barrinha de Alpino que tinha na bolsa, vi um pouco de TV, li um pouco e chapei outra vez, lá pra 1h. Pra minha surpresa, acordei somente às 8h! Acho que nunca dormi tanto em toda a minha vida. Hibernar é pouco pra esse fenômeno. Mistérios de POA...
§ Hoje é feriado, Dia de Finados, e a cidade baixa está deserta. Daqui a pouco vou almoçar com Matias e Nunu, que também estão por aqui. Que venham novos segredos e que a cidade me surpreenda, amém.