terça-feira, 24 de junho de 2008

apontamentos para a fotografia da saudade

Hoje discutimos o conto A Aventura de um Fotógrafo, do Calvino, que está no livro Os Amores Difíceis. Fala, essencialmente, sobre a fotografia e a vontade de fixar tudo, de reter para sempre na memória um traço passageiro por essência, de esgrimar com o tempo portando lentes e caixas escuras. Enquadros. A ponte era a história de Antonino Paraggi e seu fetiche por tornar válidos apenas os instantes fotografáveis da vida - ou fotografar todos os instantes, para que todos se tornassem válidos, um diário fiel de si mesmo e do mundo. Loucura ou estupidez?

Revi agora no arquivo do meu computador, aqui no trabalho, uma foto da Mel. Minha cachorrinha linda, que passou dez anos maravilhosos junto comigo. A Mel se foi em fevereiro e eu penso nela todos os dias. Não por querer mantê-la de forma egoísta na nossa companhia, mas pela saudade, por tudo o que eu vejo nos olhinhos dela e que nenhuma imagem do mundo poderia reter.

Fotografar a ausência da Melanie seria apontar minha objetiva para o tapete da sala (aquele canto exato, aquele ângulo de deitar), para o chão da cozinha perto do cesto de frutas, para a caminha embaixo da mesa (o "QG"). Seria fotografar o sorriso dela quando eu chegava do trabalho, mais os três sapateados com a patinha e o leve caminhar para trás, diante da porta. Congelar no tempo minhas mãos sobre o topete de poodle maluca, congelar o carinho dela nas minhas mãos, os olhares de dona absoluta da casa.

Eu fotografo a ausência da Mel todos os dias, em silêncio, sem mediações. Estupidez, loucura, saudade infinita. Meses se passaram e eu continuo a mesma criança diante da morte, um choro silencioso que por vezes se perde entre livros e escritas e angústias, mas que quando reencontro é como se tivesse passado o tempo todo em choro contínuo. Por dentro.

Fotografar o invisível é dar a ver o choro calado das nossas personagens? Chora para a câmera!, pede o diretor. O que é retido é a máscara, persona, a máscara da máscara? Como fotografar a sombra? Enfim, apontamentos para a fotografia da minha saudade. Ou do mundo agora, quando a Mel já é parte do meu olhar. Te amo, minha Melzinha!!

2 comentários:

Marcão disse...

Oi Dany! Adorei o seu blog, suas idéias, devaneios... imagino que seja como estar dentro da sua mente!
Pra continuar o intercâmbio, o endereço do meu blog é blekandblu.blogspot.com.
Beijos!
Marcão

wesleyperes disse...

Danyella, olá, cheguei aqui por meio da comunidade Roberto Juarroz que vc criou e que, agora, tem 3 membros rs Estou fazendo doutorado na UnB, em psicologia, minha pesquisa envolve questões de linguagem e escolhi a poesia de Roberto Juarroz como um dos campos de reflexão. Daí que tentei te adicionar no orkut, porque me interessa contactar pessoas que se interessam por Juarroz, um autor incrivelmente menos conhecido no Brasil do que deveria.
abraço

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