A primeira impressão - Família Buscapé vai à cidade grande
Cheguei num sábado, dia 25 de outubro. Logo na descida do avião, uma placa enorme avisava: "it's more fun in the Philippines!". Este é o slogan oficial do Departamento de Turismo deles, então prepare-se para encontrar o mote aqui e ali :) João foi me buscar no aeroporto e, no caminho pra casa, me chamou a atenção como a paisagem muda rapidamente - bairros que me lembravam as cidades-satélites no início dos anos 90 logo davam lugar a um grande centro comercial, no melhor estilo Avenida Paulista. É neste centrão com cara de cidade-a-mil-por-hora que moramos.
João ri da minha cara e diz que eu não vi nada ainda do que é uma cidade-a-mil-por-hora, que eu preciso ir a Hong Kong e tal. Eu sei da minha experiência: para quem tinha uma palmeira com passarinhos bem diante da janela, com um grande campo verde onde descansar os olhos, estar diante de arranha-céus e morar num prédio de 40 andares é realmente uma grande mudança.
Ayala Avenue, a minha nova Avenida Paulista |
Passei os primeiros dias meio assustada com o trânsito caótico e com a grande quantidade de gente andando nas ruas. Sobre o trânsito, cabem mais algumas palavras. O engarrafamento nosso de cada dia de Brasília não é nada perto do que rola por aqui. São muitos carros na rua e eles parecem gostar de dirigir perigosamente. Buzinar é coisa corriqueira. Sabe aquele orgulho brasiliense de "aqui evitamos buzinar", estampado em placas na entrada da cidade? Pois esqueçam. Aqui buzinar é o esquema. Os carros viram de todos os lados, tem triciclo, tem jeepneys com luzes piscando (o meio de transporte mais popular, que nada mais é do que um jeep herdado da 2a Guerra Mundial e adaptado para virar meio de transporte coletivo), tem taxis fechando uns aos outros. Uma coisa de louco para quem chega. Nós optamos por não termos carro aqui e fazermos, na medida do possível, tudo a pé. Neste sentido, temos sorte, pois a nossa vizinhança é super bem servida!
Com esse tanto de carro, é de imaginar que a poluição seja um problema. Eu estranhei bastante. É comum ver pessoas de máscaras andando pela rua ao fim do dia, na hora do rush - ainda não sei em qual medida é por causa da poluição ou pela preocupação com contaminação (gripe etc) em lugares de grande movimento. Talvez um pouco dos dois. Eu, com minha rinite, sou a rainha dos espirros quando saio na rua. O povo falta pular da escada no metrô!
Agora, um mês depois, já estou mais habituada a esse cenário de cidade grande. Mas confesso que a falta de horizonte e de céu ainda me incomoda. O que dá um conforto é você ir encontrando seus pequenos oásis no meio do caos - como o Salcedo Market, vulgo mercadinho de sábado bem em frente a nossa casa, onde produtores de toda a cidade vêm vender frutas, verduras, hortaliças e afins - tudo fresquinho, muita coisa orgânica e saudável :)
Jeepney, carro e triciclo: tudo ao mesmo tempo agora |
O pitoresco jeepney, uma verdadeira instituição filipina |
O povo filipino
O que torna a adaptação mais fácil é, sem dúvidas, a cordialidade das pessoas. Os filipinos são muito amáveis. Fazem questão de cumprimentar com bom dia, boa tarde, boa noite e um sorrisão. Nos primeiros dias, também estranhei um pouco isso de todo mundo falar com você, mas logo me acostumei.
Aqui onde moramos, todo mundo fala inglês, além do tagalog (filipino). Pegar o sotaque deles também exige um pouco de tempo. De fato, o American accent é o mais comum por aqui - eles foram colônia dos Estados Unidos, o que se reflete na influência cultural notada em praticamente tudo. Antes, as Filipinas também foram colônia da Espanha, daí o nome das ruas em espanhol (Tordesillas, San Augustin, Dela Costa, Villar etc) e sobrenomes como Garcia, Miranda e Reyes. Apesar disso, eles não falam espanhol. Falam o inglês, língua franca ensinada na escola.
O que percebi até agora sobre a questão do idioma (impressões, ok? Nem de longe tenho a pretensão de qualquer análise mais aprofundada): as gerações mais antigas falam um inglês bem ruim, em geral. Às vezes, sinto que eles estão sofrendo para se fazerem entender. Já para os mais jovens, é algo natural. Aqui, o fator sócio-econômico também pesa: quanto mais caminhamos para os rumos de Makati (onde moramos), mais o inglês flui com sotaque americano. Vi que algumas escolas de inglês por aqui, inclusive, têm cursos específicos para trabalhar o sotaque. Ou seja: American accent é sinal de status.
Essa influência está em toda parte e fica muito clara quando olhamos a quantidade de shoppings espalhados pela cidade. É uma coisa de maluco. Aqui perto de casa, fica o complexo Greenbelt-Glorietta. Cada um deve ter uns cinco prédios. Para dar uma dimensão, é como se todos os shoppings de Brasília ficassem juntos, colados, formando um complexo só. E esse é apenas UM dos malls da região. As grandes marcas internacionais estão todas por aqui. Em termos de comida, dá-lhe Burger King, Wendy's, KFC, Mc Donald's, Donuts e outras redes. Franquias de café como Starbucks e The Coffee Bean estão em cada esquina.
Nessa lógica, a maioria dos cinemas está, é claro, nos multiplex dentro dos shoppings. Aparentemente, não há cinemas de arte por aqui - se há, estão muito bem escondidos! Então a experiência de ir ao cinema aqui não tem sido muito rica. Em cartaz, sempre há filmes em inglês e outros em tagalog, sem legenda. Daqueles em inglês, 100% são blockbusters. Já vimos John Wick, Insterstellar e Fury. Isso garimpando o que de melhor havia na programação. Tem muita coisa de terror também, mas eu passo longe, porque sou medrosa mesmo e odeio filme de gente possuída :P
Massagens baratas
Aqui é muito fácil encontrar massagens boas e bem em conta. Somente aqui pertinho de casa, já encontrei uns três espaços. Há todo tipo de técnicas, com preponderância, pelo que notei, para a thai massage. Meia hora de massagem nos pés, por exemplo, sai pela bagatela de 200 pesos filipinos, o que corresponde a mais ou menos R$ 11, 00. Além disso, o conceito de pé, aqui, é bastante flexível: a massagem começa na mão, vai para os pés, passa pela canela até o joelho e termina nas costas. Uma delícia! Sem contar que a massagista coloca uma toalha quente em volta do seu pescoço, com algumas sementes aquecidas (pelo cheirinho, parece camomila). Aromaterapia de brinde, rapaz!
Para terem uma ideia do quanto é em conta, um café invocadinho na Starbucks daqui custa 170 pesos. Ou seja: toda vez que penso em tomar um vanilla latte ou meu chai, imediatamente converto no fator massagem e concluo que o café, na verdade, é que está caro.
Vocês devem estar se perguntando onde entra a cozinha asiática, certo? Se olharmos só para as grandes redes, é quase possível esquecer que estamos na Ásia. Mas nós estamos. E aí um novo mundo se abre, com cozinha filipina, tailandesa, vietnamita, coreana, japonesa, chinesa e por aí vai. Confesso que a gastronomia filipina ainda não conquistou meu coração, rs. Estamos nos aproximando. Os pratos mais comuns que vi por aqui são o lechon, o pancit (macarrão que é sempre servido nos aniversários, como o nosso brigadeiro!) e o tal do frango adobo. Nada que tenha me enchido os olhos. Ainda não provei a sobremesa típica deles, o halo-halo, mas conto assim que experimentar.
Pancit (primeira foto) e o famoso lechon: tipicamente filipinos |
O interessante é que há um acesso muito fácil à cozinha internacional, de modo que restaurantes espanhóis, árabes e italianos estão a um pulo. De toda a oferta por aqui, tenho curtido especialmente o indiano, o persa e o tailandês :)
Ainda sobre a influência estadunidense, confesso que esse paladar meio bagaceira me incomoda um pouco. Pizza, hamburguer, cookies, frango frito, donuts, nutella. Se bobear, lá está você comendo besteira com a maior facilidade, pois são as coisas mais fáceis de encontrar.
Outro fenômeno curioso aqui são os comerciais de comida. Tem um do Mc Donald's que me faz morrer de rir toda vez. Uma mulher lindíssima vem andando em câmera lenta, com os cabelos esvoaçantes. Num primeiro momento, achei que fosse propaganda de xampoo. Pois que a câmera revela uma caixinha de Mc Chicken, na direção da qual a modelo segue toda faceira. Quando você acha que já viu tudo nessa vida, vem uma modelo sensualizar enquanto come uma coxa de frango frita! Surreal. Ah, e tem também uma supermodel fazendo propaganda dum sanduíche chamado "baconator" (imaginem a bomba). Do tipo: "esse é meu sanduíche favorito; só como baconator!". Sim, daquele mesmo jeito que a Xuxa usa Monange e a Sandy a-d-o-r-a o óleo de amêndoas Paixão.
Para não dizer que não há coisas saudáveis, as frutas aqui são uma beleza. Os filipinos adoram manga e a deles é mesmo incrível! Descobri um novo amor, o calamansi, que é um limãozinho miúdo delícia! João apareceu aqui para fazer um adendo e dizer que também descobriu um novo amor: o mangostim. Estamos quites, então, nos amores frugais.
Suco de calamansi e omelete feita por João: jantar perfeito |
Mangostim, a nova fruta favorita do João |
A média de altura - uma terra onde sou maioria :P
Os filipinos são baixinhos. Bem baixinhos. Tipo eu. De forma que eu ando na multidão e fico na média de altura das mulheres. Várias são mais baixas. Sério. Nunca antes na minha história, rs! Estou encantada com isso, porque, vejam bem, há várias vantagens: pela primeira vez na vida, eu encontro roupas com facilidade, sem precisar de ajustes. Fazer barra, punho e afins eram coisas corriqueiras, quase uma extensão do ato de comprar roupas. Agora a mágica se fez: é bater o olho, vestir e ficar certinha! Com a grande diferença de que elas são mais franzinas (trocando em miúdos, não têm muito peito nem bunda), então tenho sempre que comprar um tamanho maior. Fora isso, tudo lindo!
Outra vantagem, para ilustrar. Dia desses, andei de jeepney pela primeira vez. O João ficou todo encurvado lá dentro, coitado. Já eu fui linda e faceira, sem nenhum desconforto por causa da altura. Ah, finalmente ter vantagens! Não tem preço! Tudo bem que a parte obscura da viagem foi que pegamos o jeepney errado e fomos parar numa quebrada que até hoje não sabemos onde era, mas tudo bem. Esses percalços fazem parte da aventura :)
Eu e os ancestrais filipinos no Ayala Museum |