domingo, 14 de setembro de 2014

Diário da saudade - Dias 15 a 19

Dias 15, 16, 17, 18 e 19 - início de setembro, caminhando para meados.


*Para ler ao som de Amor Brando, da Karina Buhr.





Eu já sinto um calor de amor, de amor,
quando você chega aqui...
Eu já sinto um calor de amor, de amor,
quando você chega aqui...
Tava tudo tão facinho no rasinho
E eu, sem me dar conta, assim, fui indo
Agora sinto um calor de amor
quando você chega aqui
E eu te peço que 
se aproxime de mim um pouco
mas não tanto 
a ponto d' eu sentir sua falta 
quando você for embora...


É domingo. Karina Buhr canta com aquele sotaque pernambucano delicioso enquanto eu tento avaliar mais projetos. Meu pensamento dança junto com ela e vai encontrar você, que deve estar dormindo neste momento. Te faço carinho, beijo seu rosto, mexo nos seus cabelos com corte filipino. Te dou um beijo macio e desejo que durma com os anjos. Volto do passeio pelos oceanos, pelo Pacífico, pelos tufões. Volto para a minha bancada de trabalho. E penso que, em breve, esse carinho todo vai sair do campo da imaginação e ganhar concretude. Não vejo a hora, meu amor.

Escuto a música e me lembro de todos os momentos que passamos juntos aqui. A festa da Embaixada do Canadá, em que você veio andando na minha direção com um sorriso lindo e verdadeiro, sim, como se não houvesse nada mais ao redor. Eu achando seu sotaque carioca engraçado. Danyéaaallla, o século é delessssh, você me dizia em relação ao seu encantamento pela Ásia. Eu me sentindo um peixe fora d'água por estar colorida feito uma mulher de Almodóvar em meio ao pessoal de terno e tailleur, todos muito sóbrios. Você disse que eu coloria o ambiente, e eu ri, sem graça, mas encantada com você.

Não nos desgrudamos desde então. E olha que já enfrentamos muita saudade - nunca ausência. Lembro que você viajou de férias para o Rio logo depois que nos conhecemos. Foram 20 dias em que eu te escrevi religiosamente. Nos falávamos sempre por mensagem ou telefone, e olha que nem namorávamos ainda. Nada estava dito sobre isso. Mas era como se não precisasse. Por 20 dias, te mandei um trecho de música diariamente no projeto que chamei #umamúsicapordiaparaJoão. Tudo isso por mensagem. É. O amor em tempos de Whatsapp.

Você voltou de férias e cinco dias depois, se não me engano, eu viajei para o México para o casamento da Grazi. Foram 15 dias por lá. Também nos falamos diariamente. Agora, já oficialmente namorados. A cada coisa que eu via, eu queria compartilhar com você. As ruínas, as pirâmides, a loucura cosmopolita da Cidade do México, a beleza de San Cristobal de las Casas e a alegria do casamento da minha amiga de infância diante do mar de Cancun. Acho que você teria adorado tudo. E eu teria adorado cada segundo com você.

Depois desse início sob o signo da saudade, acho que fomos nos talhando para o que vivemos hoje, para esses dois meses de espera interminável. Um prelúdio. Somos fortes, nêgo. Temos o trabalho para mergulhar. Temos, sobretudo, a lembrança de seis meses muito bem vividos na vibração do amor. Um amor muito genuíno, de quem não espera que o outro seja nada além do que ele é. Com você eu me sinto assim, sabia? Feliz aqui e agora. Você tem ideia do valor que isso tem para uma pessoa ansiosa crônica, que sempre se acostumou a estar ou no passado ou no futuro? É. You got the power, babe. 

Eu ia começar esta carta me desculpando pelos dias em que fiquei sem te escrever por conta da correria e blá blá blá. Mas aí me dei conta, ainda na primeira linha, de que não era preciso. Você sabe exatamente o que se passa aqui. De modo que não é a freqüência dos dias que faz do nosso diário da saudade ser o que ele é. O que escrevo aqui é só uma pontinha de tudo o que eu sinto por você.

Quero que você vá me esperar no aeroporto com o mesmo sorriso da mostra de cinema. E que me conte um monte de histórias, com toda a carioquice que você puder.

Eu prometo voltar a te contar histórias para dormir.

Como a do menino que carrega o mar e, por isso, o sotaque ondula.

Vou pensar nos desdobramentos desse menino diante de outros mares, revoltos por tufões e pelas monções do sudeste asiático.

Acho que a mudança de paisagens e as vastidões têm mostrado a ele que, onde quer que ele esteja, cabe na alma sempre tanto mar.

E tanto amar.


Mil beijos enquanto você dorme,

Dany




P.s.: Tomei a liberdade de roubar essa foto do seu Instagram, porque acho linda. Mais lindo é o seu olhar.

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