terça-feira, 2 de setembro de 2014

Diário da saudade - Dias 04, 05 e 06

Dias 04, 05 e 06 - Fim de agosto e início de setembro

* Para ler ao som de All things must pass, do George Harrison. 







Agosto acabou e finalmente começa setembro. Esses dois últimos dias do mês passaram de forma confusa na minha cabeça. Acho que estou sofrendo de jet lag junto contigo. Misturo as datas, as horas, não sei se dormimos ou acordamos. Toda uma nova logística é necessária, mas ainda tateio. As melhores horas do dia são quando nos falamos no Skype. E, como foi fim de semana, pudemos falar com calma. Como é bom ouvir você, ver você no vídeo - mesmo que todo pixelado! Percebo que você já está mais ambientado no seu novo habitat. Já passeou, já se molhou com as chuvas da Ásia de Monções, que a gente estuda nas aulas de geografia...já até começou a trabalhar!

Fiquei muito feliz com as novidades e com a sua nomeação. Você merece todo o carinho e reconhecimento, João! Eu e seu filhote ficamos num orgulho danado.

Por falar nele, precisamos te contar que Lipe e eu passamos o domingo quase todo jogando videogame. Sim! Conseguimos instalar o Hi Top Game na casa da Di. Não vejo a hora de ensiná-lo a passar de fase no Super Mario 3. Mas tem que ser o jogo retrô do videogame velho da mamãe. Mamãe só sabe jogar esse. Só fita em que o boneco anda pra frente, pra trás e pula. Apenas isso. Nada de coisa 3D, de hiper-realismo. Ah, serão tempos muito divertidos com o nosso pequeno! Penso nisso e me dá uma saudade absurda de você.

No sábado, fui visitar a tia Julia e todos mandaram mil beijos. Luluca não estava lá, uma pena! Era o fim de semana dela ficar com o pai. Sabe, tenho passado mais tempo ao lado das meninas. Percebo que, nesses momentos de melancolia, estar perto da nossa base faz muito bem. E é isso o que tenho buscado, o amor da família e dos amigos.

Na segunda, voltei pra casa. É preciso enfrentar, não é mesmo? A bagunça, as lembranças suas, a minha solidão temporária. A rosa que eu te dei quando completamos 5 meses juntos já murchou, mas vou aproveitar uma brecha na semana para abastecer a casa de flores. Gosto disso. É uma forma minha de não me desconectar da beleza da vida, mesmo quando triste. Gérberas, astromélias, jasmins...cores para perfumar a casa de parede vermelha.

Esses dias têm sido, certamente, os mais quentes do ano. A umidade chega a 15%. Você se livrou, heim? A paisagem é de aridez, com muitas folhas secas. Mas os ipês estão por toda a cidade, preparando o terreno para a primavera. Acho que essa beleza de florir em meio à seca vai amenizando  o peso com que os dias passam neste calor. Fica difícil respirar, produzir normalmente, mas a graça da contemplação nos lembra que vai passar. All things must pass. 

Te falei em como a consciência desta frase me foi uma cura para a ansiedade crônica, né? Que Rivotril, que nada! Entender e assumir a impermanência foi uma virada de chave. Não querer, a todo custo, ditar o rumo das coisas. Não perder o chão quando tudo parece fora de controle. Porque também isso vai passar.

Percebo que estou repetitiva a falar sobre o tempo. Deve ser porque é a reflexão que me ocupa a alma desde que você viajou. O que é este tempo aqui, sozinha, este interlúdio? Não conseguimos viajar juntos, no mesmo tempo. Procuro compreender o que posso tirar desse aparente desencontro. Enquanto isso, arrumo a casa para o Felipe crescer bonito, entre flores e alegria.

Que o nosso sorriso de orgulho por suas conquistas e por tudo o que você é possa chegar até aí e adoçar o seu dia. Ou noite! Quem se importa a esta altura?

Todo o nosso amor,

Dany













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