*Para ler ao som de Swing de Campo Grande, dos Novos Baianos.
Hoje pela manhã nos falamos antes de eu sair para o pilates. Foi uma conversa breve, mas deu para matar um pouco da saudade. Temos nos desencontrado no fuso, não é? Lost in translation. Você ri da minha confusão e me faz rir da minha própria leseira. “Imagina quando for minha vez?”, penso eu. Melhor nem pensar.
Fico feliz em ver que seu organismo já está quase 100% adaptado. Você me disse que já sente sono durante a noite e fome nos horários “certos”. Bom sinal. Só fico chateada pela sua mala, que ainda não chegou. Combinamos que eu vou tentar te ajudar por aqui a resolver tudo. Gosto disso, desse nosso companheirismo. É tão natural: eu me sinto bem quando consigo te ajudar e vice-versa. Não há recompensas. O prêmio é só a satisfação de fazer bem ao outro.
Acho que esta é uma das coisas mais bonitas da nossa história, sabia? Sempre foi assim, desde que você, na nossa primeira semana de namoro, foi comigo até a rodoviária me ajudar a resolver o perrengue do passaporte para o México. Você lembra? O atendente perguntou se eu era sua filha. Eu quase morri de vergonha (e de ódio!), mas você levou tudo com tanta leveza que me restou rir da situação.
Não faltam lembranças do nosso companheirismo: a febre na Bahia, quando você cuidou de mim; a sua reação à vacina maluca, quando você foi lá pra casa e ganhou muito xodó; você comigo na fila do pronto-socorro quando eu torci o pé dançando um frevo apocalíptico. Lendo assim, parece até que somos um casal senil que só vive doente, né?
Mas talvez a imagem mais forte que tenho desta parceria é a sua mudança. Estivemos juntos, o tempo todo, a organizar os objetos, encaixotar, jogar coisas fora, ressignificar tantas outras. Assim fomos por vários dias, em várias viagens até a minha casa carregando coisas, até esvaziar por completo o seu apartamento. Foi um processo exaustivo, mas passamos juntos por tudo – a dor e a delícia.
A delícia vai ser estar aí em breve ao seu lado, exercitando todo esse companheirismo em terras filipinas. Não vejo a hora de chegar. Fico ansiosa imaginando as várias coisas que eu vou querer fazer, explorar, estudar, desvendar. Ao mesmo tempo, me dá ansiedade pensar em algumas coisas que vão ficar, temporariamente, para trás.
Como o carnaval. Vê só: a pessoa pode ficar sem feijão, sem os ipês amarelos, sem tapioca. Mas como é que fica sem carnaval?
Taí, essa é mais uma afinidade nossa das que eu mais gosto: o coração carnavalesco. Penso nisso e abro um sorriso instantâneo. Imagino o Lipe vestido de pirata no seu ombro, enquanto pulamos no Bloco da Tesourinha. Ele vai ter uma mini sombrinha de frevo e vai aprender a dançar. Também vai aprender a bater tambor e a amar as cirandas e os maracatus. Seguiremos nós três por muitos e muitos carnavais. Em Manila, em Brasília, no Rio. Em qualquer lugar.
Porque, onde estivermos, haverá carnaval.
E tenho dito.
Amo você,
Dany
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