Enquanto estou aqui em Brasília, tomando meu Nespresso sabor baunilha, há uma mulher trancada no quarto em Bangladesh lamentando uma escolha errada e incurável. Em Santorini, um jovem olha as casas cobertas de sol e pensa no movimento dos barcos. Assim em Canoa Quebrada e também no branco de Punta Ballena, esse branco que por vezes encobre o que parece felicidade mas é quase uma fuga.
Em Argel, uma moça mergulhou na banheira até sumir de si mesma. A carta, que ela pensou nunca chegar, aportou dois dias depois debaixo de sua porta. Em Bucareste, sei de uma senhora que, cansada dos dias, resolveu colocar sua melhor saia e sair em busca dos sons mais antigos que ouvisse.
No Iraque, uma jovem se apaixona por um soldado mas já não importa porque ele vai embora e a cidade está em ruínas e há tantas forças e tantos lados que já não vale mais a pena sonhar um sonho que morre. Na Asa Norte, uma mulher em construção toma um café na janela ao lado de dois gatos enquanto pensa que a vida não tem rascunho. Ela corta o seu braço pra raiva passar e os machucados abertos lhe mostram que não há fundura que dê conta da nossa imperfeição. No Tennessee, um adolescente magro chora no banheiro enquanto o barulho da água abafa sua inadaptação.
Somos todos inadaptados ao mundo onde não se pode errar. Em todo canto do mundo, há alguém a chorar.
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2 comentários:
Engraçado, pensei neste instante em criar um blog chamado "Poesia lunar", googlei pra ver se já existia, e vim parar aqui... Curiosamente, você é de Brasília tambem! Sempre bom conhecer artistas da cidade. =)
Oi, João! Coincidência, né? As ideias estão aí, bailando! Que bom que este acaso fez você vir parar aqui. Seja sempre bem-vindo. Um abraço.
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