segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Meditação diante do mar
As palavras têm sentido quando nos habitam.
Pensamento que me veio com a brisa do mar da Bahia, na chegada de carro até Trancoso. Sentada em frente ao mar, escrevi assim:
Por que eu voltei a Trancoso querendo encontrar o mar da minha infância? A mesma cor, as mesmas ondas (a mesma onda que eu furava com a minha mãe e não tinha medo). Só que a cor é outra. O mar é mexido. As ondas fazem outro movimento. Menos doce, mais agitado. E eu me agito junto porque esta não é a Trancoso que eu procurava. Falta o sol; falta a cachorra Xuxa correndo atrás dos caranguejos que se escondiam na areia; falta a ponte que era a travessia da casa para o infinito.
A ponte passava sobre o mangue. O mangue era feio e sujo, mas era passagem necessária, diária.
Certa vez, a chave do vizinho caiu dentro do mangue. O Raizero, que trabalhava na pousada, teve que mergulhar para procurar. Um homem na lama não em procura de caranguejos, mas de uma chave que não era dele.
Que é isso, procurar uma chave na sujeira infinita e pastosa do mangue? Que me foi isso?
O mangue é sujo ou é o ecossistema mais puro e sujo somos nós? Que não damos conta da travessia (a ponte!) e temos que deixar cair sobre ela a chave da nossa alma? Eu ia escrever "alma" e duvidei da palavra. Casa e alma se me confundem.
Diante do mar, vou perdendo o medo do ridículo, de baixar a guarda e, por um segundo, fazer uma escolha errada que vai me expor ao pra sempre do ridículo. Um gesto, uma fala, um riso sem medida de uma coisa sem graça mas que pra mim é engraçada e eu posso rir mesmo que ninguém ria.
Eu senti falta da Trancoso da minha infância e me sentei de frente ao mar para meditar. Meus pés doeram, não encontrei conforto para minhas memórias tão caras e, então, resolvi escrever.
Ao fim desta página, percebo que meditei mais do que se tivesse apenas meditado como acho que devo achar que é meditar.
Chove. As palavras começam a borrar. Penso em levantar e voltar para o seco, o protegido. Mas também penso que é disso que estou falando aqui e pra onde esta meditação me chamou:
Deixar borrar
Então fico.
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Um comentário:
Sua escrita é maravilhosa e acolhe quem lê!
Que blog mais bonito, moça!
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