Pina é um encontro de dois grandes expoentes da arte alemã. De um lado, a bailarina e coreógrafa Pina Bausch, morta em 2009. De outra, o cineasta Wim Wenders, famoso pelo caráter autoral de suas obras, como Paris, Texas (1984) e Asas do Desejo (1987). Em seu mais novo documentário, Wenders direciona sua sensibilidade para homenagear Pina Bausch, que se tornou conhecida mundo afora por romper as fronteiras entre o teatro e a dança. O filme já estava sendo produzido quando Pina faleceu. Wenders quis continuar o projeto ainda sim, mostrando o processo de criação da artista e sua relação com os bailarinos do Tanztheater Wuppertal - companhia dirigida por ela e que se tornou uma espécie de ícone da dança contemporânea.
Wim Wenders não é nenhum estreante no documentário. Em 1999, fez Buena Vista Social Club, sobre a orquestra cubana de mesmo nome. O filme foi indicado ao Oscar de melhor documentário na época, assim como Pina foi neste ano. A diferença é que Pina é uma experiência mais radical, até pelo tema do filme. Se Pina Bausch explorou o diálogo entre teatro e dança, mostrando que as duas linguagens podem caminhar juntas, Wenders fez uso da mesma proposta e rompeu com as fronteiras do gênero documental.
Assim, Pina transita entre características da vídeo-dança e do documentário, enriquecendo a experiência do expectador. A estrutura do filme é composta basicamente de depoimentos dos bailarinos que trabalharam com Pina Bausch e longos trechos de espetáculos e coreografias. É justamente a mistura de linguagens que torna a utilização do 3D mais interessante. Pina é o primeiro filme de Wim Wenders utilizando esse recurso. O resultado é uma obra que coloca o 3D a serviço da arte, ampliando a experiência estética do público, que pode sentir de forma muito mais intensa a emoção dos bailarinos. A sensação é de participar da coreografia, de estar no meio de um cenário onde tudo é poesia.
Os depoimentos dos bailarinos também emocionam. Todos são unânimes quando falam da força expressiva de Pina Bausch, que contrastava com o corpo delicado e franzino. Pina sabia explorar o melhor de cada dançarino. Ela não buscava padrões: em sua companhia, vemos dançarinos de diversas nacionalidades, ora mais velhos, ora jovens. Não há um corpo ideal. Há diferentes corpos e linguagens, assim como na vida. A ideia de Pina, aliás, parecia ser transportar a vida para o palco. Ou transportar o palco para a vida. Elementos cotidianos viravam matéria de poesia. Ações cotidianos inspiravam as coreografias e cada dançarino-ator era incentivado a levar um gesto que fosse representativo, que sintetizasse todas as emoções.
A matéria-prima para Pina Bausch parecia ser mesmo a paixão. E Wim Wenders soube captar isso no filme, com os recursos próprios do cinema. Se você prefere filmes em terceira dimensão que potencializem efeitos especiais e tragam adrenalina, ou então não tem paciência para as inovações da dança contemporânea, a experiência de passar quase duas horas vendo Pina pode ser tediosa. Nesse caso, é melhor ver outra coisa. Agora, se você gosta de arte e de dança e quer ver um filme em 3D que potencialize sensações e aguce os sentidos, vá assistir sem medo. É uma belíssima experiência.
2 comentários:
Danyella, concordo sobre essa questão do uso do 3D - usar de forma a não ser mero chamariz pra atrair o público a coisas que "sejam jogadas na tela".
Eu enrolei tanto para ir ver o filme e, quando consegui, troquei o cinema por dois copos de whisky... Não assisti, e saiu de cartaz.
É uma coincidência enorme o nome do seu blog; eu tinha um chamado Poemas Lunares. Não existe mais. Dois dos poemas foram parar no blog mais ensolarado que eu cultivo hoje.
Abraços
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