quinta-feira, 19 de abril de 2012

Crítica de cinema: Pina 3D, de Wim Wenders


Pina é um encontro de dois grandes expoentes da arte alemã. De um lado, a bailarina e coreógrafa Pina
Bausch, morta em 2009. De outra, o cineasta Wim Wenders, famoso pelo caráter autoral de suas obras, como Paris, Texas (1984) e Asas do Desejo (1987). Em seu mais novo documentário, Wenders direciona sua sensibilidade para homenagear Pina Bausch, que se tornou conhecida mundo afora por romper as fronteiras entre o teatro e a dança. O filme já estava sendo produzido quando Pina faleceu. Wenders quis continuar o projeto ainda sim, mostrando o processo de criação da artista e sua relação com os bailarinos do Tanztheater Wuppertal - companhia dirigida por ela e que se tornou uma espécie de ícone da dança contemporânea.


Wim Wenders não é nenhum estreante no documentário. Em 1999
, fez Buena Vista Social Club, sobre a orquestra cubana de mesmo nome. O filme foi indicado ao Oscar de melhor documentário na época, assim como Pina foi neste ano. A diferença é que Pina é uma experiência mais radical, até pelo tema do filme. Se Pina Bausch explorou o diálogo entre teatro e dança, mostrando que as duas linguagens podem caminhar juntas, Wenders fez uso da mesma proposta e rompeu com as fronteiras do gênero documental. 

Assim, Pina transita entre características da vídeo-dança e do documentário, enriquecendo a experiência do expectador
. A estrutura do filme é composta basicamente de depoimentos dos bailarinos que trabalharam com Pina Bausch e longos trechos de espetáculos e coreografias. É justamente a mistura de linguagens que torna a utilização do 3D mais interessante. Pina é o primeiro filme de Wim Wenders utilizando esse recurso. O resultado é uma obra que coloca o 3D a serviço da arte, ampliando a experiência estética do público, que pode sentir de forma muito mais intensa a emoção dos bailarinos. A sensação é de participar da coreografia, de estar no meio de um cenário onde tudo é poesia.

Os depoimentos dos bailarinos também emocionam. Todos são unânimes quando falam da força expressiva de Pina
Bausch, que contrastava com o corpo delicado e franzino. Pina sabia explorar o melhor de cada dançarino. Ela não buscava padrões: em sua companhia, vemos dançarinos de diversas nacionalidades, ora mais velhos, ora jovens. Não há um corpo ideal. Há diferentes corpos e linguagens, assim como na vida. A ideia de Pina, aliás, parecia ser transportar a vida para o palco. Ou transportar o palco para a vida. Elementos cotidianos viravam matéria de poesia. Ações cotidianos inspiravam as coreografias e cada dançarino-ator era incentivado a levar um gesto que fosse representativo, que sintetizasse todas as emoções.

A matéria-prima para Pina
Bausch parecia ser mesmo a paixão. E Wim Wenders soube captar isso no filme, com os recursos próprios do cinema. Se você prefere filmes em terceira dimensão que potencializem efeitos especiais e tragam adrenalina, ou então não tem paciência para as inovações da dança contemporânea, a experiência de passar quase duas horas vendo Pina pode ser tediosa. Nesse caso, é melhor ver outra coisa. Agora, se você gosta de arte e de dança e quer ver um filme em 3D que potencialize sensações e aguce os sentidos, vá assistir sem medo. É uma belíssima experiência. 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Das árvores que amo



Ainda sobre o processo de mudar a alma de casa:

Sentirei falta da gameleira da 206/207 sul, que reverencio a cada caminhada. Sobretudo, sentirei falta do pé de jasmim-manga que fica em que frente ao meu antigo bloco, e que já virou meu cantinho perfumado do sagrado.

Se minha alma fosse uma flor, certamente seria uma flor de frangipani.

Mudar a alma de casa

Ainda neste mês vamos entregar definitivamente o apartamento onde morei por oito anos. Embora haja euforia por assumir de vez a casa nova, há muito de melancólico em deixar uma casa. Todos os cantos, todas as estantes, todas as paredes e caminhos são repletos de memória. De modo que um quadro deixa de ser só um quadro. Um enfeite ganha amplidões de sentido. E os espaços feitos de histórias vão ficando de um vazio triste a cada caixa que sai porta afora. Difícil. Nenhum canceriano deveria fazer mudanças. Deveríamos, sim, esperar a onda bater na carapaça e simplesmente ir, simplesmente ir...

18 dias no Japão

Foram 18 dias de sonho e muitas caminhadas pelo Japão. Começamos por Tokyo, onde ficamos por 4 dias. A ideia era entrarmos em contato com c...