Hoje, ao acordar, senti uma leveza que há muito tempo não sentia. Como se o mundo todo estivesse em suspenso para que eu apenas respirasse, sem nenhum objetivo. Apenas abrir os olhos e respirar. Meu pescoço, que sempre ficou contraído e preparado para alguma guerra imaginária, finalmente relaxou. Meu maxilar também. Fechei os olhos e foi como se, pela primeira vez, eu entendesse o sentido de meditar. Meu corpo leve, nenhuma sombra sobre os olhos, nenhum peso. Eu estava acordada, mas parecia ainda dormir, ou acordar para outro estado.
Levantei, passei mentalmente os compromissos do dia, mas nada me fazia ter pressa. Nada me tirava o chão. No caminho para o trabalho, dirigindo meu carro, olhei o mundo e foi como se em um segundo eu compreendesse toda a filosofia do universo. Eu simplesmente sabia. Tudo estava dado, ali, diante dos meus olhos. A sensação era de ter uma cortina nos olhos, uma névoa que me colocava em outro estado de percepção. O mundo estava ali, as árvores, o chão, tudo, desde sempre, e sempre diferente.
Tem coisas que a gente tenta entender com o racional e passa anos achando que compreendeu. Aí, em um segundo de entendimento com o coração, a gente compreende. E vê que antes não sabia nada. Nessa manhã, entre acordar e dirigir até o trabalho, entendi o que era a impermanência de que o budismo tanto fala. E senti o que era a entrega, um estar no mundo sem esperar nada em troca, a não ser o mundo e as possibilidades infinitas que eles nos dá. Um caderno em branco, nós e o universo. Então só continuei em silêncio e agradeci por esse momento, com a consciência de que ele passaria tão rápido e intensamente quanto veio.
Mas não. A sensação persistiu. E eu achando que havia algo errado comigo, essa letargia não podia ser normal. Cadê a Dany que estava sempre pronta, na defensiva, sempre antecipando coisas, preocupada, no controle? Essa Dany que conheci essa manhã não controlava absolutamente nada. Tomei um café pra ver se voltava ao “normal”, mas fiquei pensando que talvez meu normal esteja finalmente mudando, e a vida me apresente uma outra possibilidade.
Quem sabe seja finda essa memória corporal de maxilar travado, dores de cabeça, pescoço travado, o corpo como um soldado pronto para a batalha, pés firmes no chão, nenhum vento me move? Quem sabe esses não sejam tempos de entrega, de tirar os pés do chão como quem aceita uma dança?
2012, eu aceito. Bailemos de mãos dadas. Porque não é o mundo que vai acabar. É esse meu mundo, que acreditei o único, mas que precisa ir. Ele foi importante, 2012. Então nos despeçamos dele com respeito e reverência, deixemos que ele passe pelo salão. Agora somos nós dois, no centro da pista, a nos reinventar.
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