Neste exato momento, aproveito a solidão do quarto de hotel em Recife para ordenar algumas impressões sobre o CinePE, festival de que venho participando desde domingo. Preciso dizer que estou impressionada com a grandiosidade disto aqui. Mostrar seu filme para uma platéia de 3 mil pessoas é de uma emoção sem tamanho. O público realmente participa, você percebe que as pessoas que moram na cidade se mobilizam para ir ver o festival, e isso é muito bacana mesmo.
O Braxília passou na noite de domingo, numa sessão linda. Sempre me bate um receio de o filme não funcionar fora de Brasília, não tem jeito. Aí me lembro de Niki citando Tostoi, cante a tua aldeia e serás universal, e meu nervosismo de certa forma se dissipa. O poder da poesia é uma coisa impressionante, capaz de fazer que uma guria de 20 e poucos anos em 2004 visse seu conflito com a cidade ganhar expressão nos versos de um poeta que começou a escrever nos anos 70; capaz de fazer que pessoas em Recife, por exemplo, se emocionem com o olhar desse mesmo poeta diante de um cenário estranho, alheio até. Acho que todas essas pontas não se conectariam se não fosse a poesia. Estou em estado de graça, assim como fiquei quando o filme foi exibido no Festival de Brasília, na Mostra Tiradentes e no É Tudo Verdade. Cada festival fica sendo um infinito. Encontros.
Guardei muitas impressões também sobre os outros filmes que tive a oportunidade de ver aqui. Faço milhares de anotações sobre as sessões, mas fico sempre confusa sobre como organizar todo o meu turbilhão de comentários, imagens, sensações. Na verdade, acaba que a gente acaba sendo meio atropelado pela correria dos festivais e não consegue parar muito para escrever, rs. Precisa rolar uma disciplina, mas vou tentando, ao longo dos dias.
Agora mesmo eu ia começar falando dos filmes do primeiro dia, mas vou falar dos de hoje, que estão mais frescos. O curta que mais me tocou hoje foi Traz outro amigo também, do gaúcho Frederico Cabral. Achei sensível, lúdico, divertido, bem realizado...e tocou num tema tão bonito! Não me lembro dos meus amigos imaginários da infância, uma pena. Mas me lembro que minha prima era amiga da Dona Ventania. Voltando ao filme: contratar detetives particulares para irem atrás dos nossos amigos imaginários desaparecidos é uma bela metáfora para a reconexão com o lúdico e, por que não, com a poesia. Um reencontro sobretudo com a imaginação, para que ela nunca deixe de nos acompanhar. Graças a Deus aprendi com minha mãe a não me perder da minha criança. Deve ser por isso que fazemos tanto sucesso com a meninada da rua. Eu posso ver os amigos imaginários deles, apesar de não me lembrar do meu, e assim vou colecionando novos e fieis companheiros.
Gostei também do Ovos de dinossauro na sala de estar, do Rafael Urban, que tive a oportunidade de conhecer em Tiradentes, quando ele apresentou o curta Bolpebra. Rafael encontrou uma personagem incrível, tão bela e esfíngica que me remeteu à Clarice Lispector. Aliás, não seria a cara de Clarice uma mulher diante de ovos de dinossauros na sala de estar – ela, a mobília austera e os ovos fossilizados? Pois eu fiquei achando que estava na verdade dentro de um conto dela, com vestígios de uma história de amor se misturando a vestígios de tempo.
Eu, para crítica, acho que não presto. Por isso falo em impressões. Não vou ter o compromisso aqui de contar as histórias do filme, então as coisas que digo podem soar meio soltas, ok? Amanhã continuo!
Um comentário:
Quer dizer que isto aqui ainda funciona? Parabéns pelo sucesso todo. Queria ter participado mais disso tudo, mas a vida carrega a gente. Abraço pro Igor!
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