No faxinão de fim de ano, olhem só o que encontrei numa cadernetinha...as memórias de uma vez que passei duas horas no telefone com a TIM e não consegui resolver meu problema. Isso soa familiar a alguém? Ai ai!
15 de junho – Recebo uma carta avisando que meu telefone será cortado, dois dias depois dele já ter sido! Ligo para a TIM. Começo às 21h.
Protocolo # 6 – caiu a ligação
Protocolo # 7 – caiu a ligação, depois de 10 minutos esperando;
Protocolo # 8 – Consultora: “boa noite, com quem eu falo?”; Eu: “Danyella”; Consultora: “senhora, boa noite, com quem eu falo?”; Grito: “Danyééélllaaaaaaaaa!”; Consultora: “por falta de comunicação, a ligação será encerrada”.
Vontade de morrer. Troco de telefone e tento mais um pouco.
Protocolo #9 - A consultora Kathlen me pergunta o que está acontecendo, sendo que já expliquei diversas vezes. Respiro fundo e conto. Ela consulta, verifica, digita, me pede pra aguardar.
Enquanto isso, inspirada por sua voz firme e simpática, me pergunto: “Como será a Kathlen? Que rosto terá? Será negra, branca, alta, baixa? Loira, tingida? Gosta de fazer o que nas horas livres? Tem namorado? Namorada?”. Sei que sua voz me causou ternura. Fiquei terna. Kathlen volta quase meia hora depois e constata que realmente há um erro. Diz que vai me encaminhar para o setor responsável. Eu imploro para ela não fazer isso, explico que dá última vez a ligação caiu. Ela me diz, aumentando minha ternura por ela: “Senhora, eu vou fazer o possível para a ligação não cair. Se não der, vou tentar te ajudar, tá?”.
Diante de uma resposta tão humana, eu disse: “tá”.
22h10 – Kathlen me transfere para a Cristiane. Explico que meu celular está cortado, que dizem que eu não paguei a conta, mas que me foi dito pela TIM que eu não precisaria pagar. Digo que quero entender que cobrança é essa. Ela me diz que pode ser um saldo devedor da Brasil Telecom, minha antiga operadora. Eu digo que não pode ser. Ela pede um momento pra verificar (o que diabos eles tanto verificam? Os outros já não tinham verificado??)
Percebo que estou sem ar, completamente tensa. Como se, a qualquer movimento meu, corresse o risco da linha cair. Então fico dura, imóvel, mal respirando.
22h14 – Cristiane me pede mais um momento;
22h19 – Cristiane diz: “nesse momento estou contestando a fatura para retirar o valor para a senhora”.
22h24 – Cristiane pede mais um momento;
22h25 – Mais um momento;
22h26 - Cristiane volta e pergunta: “A senhora já efetuou o pagamento da conta?”. Respondo: “Não!!!!!!!! Até porque me foi dito que eu não precisaria pagar!! É isso que estou tentando explicando há dias para vocês!”
22h27 – Cristiane diz: “entendi...”
22h29 – Cristiane pede mais um momento.
Sozinha no quarto há um bom tempo, já com as pernas dormentes, começo a anotar tudo na cadernetinha. Alguém me traz um uisquinho, por favor? Começo a me alongar enquanto equilibro o telefone no ouvido com o ombro.
22h30 – Já alongada, pego um livro de reflexologia podal e tento alguns exercícios;
22h36 - Meu estômago começa a roncar. Toco bateria imaginária com o lápis e a caneta.
22h37 - Seguindo as orientações do livro, observo de que lado meu chinelo é mais gasto. Vejo que é o lado de fora, principalmente no pé direito;
22h38 – Cristiane volta e me pede só mais um momento. “Já estou finalizando, tá bom?”. Escrevo, evocando Lady Kate: “bom, bom não tá, mas tá bom...”
22:39 – O quarto vazio começa a me dar pânico. Só eu e o telefone. Já não penso em mais nada. Me dá câimbra, tudo me entendia.
22h40 – Acho uma fita K7 onde se lê “Timbalada Dany 93” em canetinha prateada. Escrevo novamente e comparo minha letra. Abandonei os traços arredondados, mas persiste uma certa fúria.
22h46 – Algo cai no apartamento de cima e faz barulho. Não é estranho pensar que o teto é também o chão? Tenho um momento existencial.
22h49 – Escrevo como seria meu nome sem Y, sem LL, texto as variações (uma hora, quatorze minutos e dezessete segundos no telefone);
22h50 - Minha coluna dói. Deve ser porque já faz mais de uma hora que fiz alongamento. Tento de novo me estivar, mas o pé fica dormente.
22h52 – Me dou conta de que o último contato foi às 22h38, há exatos 14 minutos. Algo está errado. Minhas mãos e pés ficam gelados, minha boca fica dormente. Cristiane, cadê você? Preciso ouvir sua voz!!
22h55 – Como seria se eu deixasse tudo isso escrito e pulasse pela janela? Pareceria uma piada? É, não era pra ser.
22h57 – Com os olhos marejados, desisto de tentar manter o autocontrole e surto: “Tem alguém me ouvindo? Cristiane? Alô? Pelo amor de Deus, alguém fala comigo? Tomara que tudo isso esteja sendo gravado, isso é criminoso, eu estou há duas horas no telefone, estou passando mal, por favor, alguém responde!!”
Silêncio. Me humilhei e implorei por uma resposta, nem que fosse um “só mais um momento”, mas a resposta não veio.
23h – A consultora morreu? Eu morri? Gritar não vale, morrer não adianta;
23h07 – A ligação cai.
Um comentário:
Perde-se contato com o mundo, parte-se pra outra dimensão...
Postar um comentário