Há mais ou menos um ano eu fui ao cinema ver Caotica Ana, do Julio Medem. Esse dia me marcou muito, porque eu havia acabado de entrar em contato com uma informação que mudou toda a minha vida - sem na prática mexer em nada. Foi nesse espírito que fui ao cinema: perturbada, confusa, fragilizada, com todas as janelas da minha alma abertas, quase uma revisita.
Não sei dizer como saí do filme. Sei que, até hoje, ele ecoa forte em mim. Ouvi muita gente dizer que achou uma porcaria, que se decepcionou com o Julio Medem (provavelmente quem foi esperando algo na linha de Lucia e o Sexo ou Os Amantes do Círculo Polar, obras-primas, sem dúvidas). Eu não me decepcionei nem um pouco. Achei o filme de um simbolismo muito bonito e pude ver no caos da personagem principal um pouco do caos de todos nós, com todos as nossas memórias, ancestralidades gravadas em cada traço. Ouvi muitos reclamarem, também, que era um "momento espírita" do diretor, já que o filme mostra a personagem principal mergulhando em vidas passadas - sempre parte de trágicas histórias de mulheres, há 20 ou 100 anos. A dor era a mesma, mudados os rostos e cenários que fossem.
Não acho que seja simplesmente um filme "espírita", pejorativamente falando, como ouvi e li tantas vezes. Minha leitura definitivamente não foi por aí. O fato de Ana ser todas aquelas mulheres não significa necessariamente que tenha vivido como cada uma em vidas passadas. Significa justamente isso: Ana é todas aquelas mulheres. Assim como eu sou, você é, basta abrir as janelas pintadas na parede da caverna. É uma leitura mais junguiana mesmo, pra ficar só aí. Estamos conectados, e por isso o passado não morre, não se acaba: somos o que vemos agora, mas também somos tudo o que foi, reelaborado, reordenado até a nossa totalidade. Quando entramos em contato com cada uma dessas partes, aceitamos o caos. Até reordenar novamente e sermos de novo inteiros.
Estou melancólica, é isso. E mais canceriana do que nunca. Deve ser o inferno astral. Pois que ando recolhida, sonhando com fênix douradas e rememorando aquela que fui em cada fase que passou. Não sem tristeza, não sem saudade, mas mantendo em mente que é preciso deixar morrer para ser novo. Ando duelando com a morte e ofertando flores a ela. Talvez por isso tenha voltado ao filme...termino o post com uma música belíssima cantada pela Cesaria Evora e pelo Pedro Guerra, que me arrebatou enquanto corriam os créditos. Tiempo y silencio.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
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